O TOPS vem ao Brasil pela primeira vez para se apresentar no Secret Festival. O trio de Montreal, formado a partir do fim do grupo de synthpop Silly Kissers, do qual Jane Penny David Carriere e Thomas Gillies (ex-membro da TOPS) faziam parte, traz na bagagem 2 discos e boas críticas, ainda que seja impreciso dizer que o grupo é unanimidade.
A banda estrutura suas composições a partir de arranjos relativamente simples, contando sempre com baixo, bateria, guitarra (às vezes duplicada) e, vez ou outra, sintetizadores. É difícil não associar a sonoridade com lampejos de lo-fi, até porque há um aspecto “faça você mesmo” que permeia seus dois LPs, Tender Opposites (2012) e Picture You Staring (2014).
Ainda que não seja evidentemente um grupo ousado, a TOPS transpira uma liberdade estética, mesmo que tímida, em seus registros, primando por canções que existem sob uma lógica do equilíbrio, da solidez, suaves e reconfortantes. Picture You Staring, especificamente, fez o trio ser comparado com o Unknown Mortal Orchestra, tanto pela produção quanto pelos arranjos.
Uma audição atenta dos dois álbuns mostra como a banda opta por construir um trabalho ágil, no qual pitadas de psicodelia como de “Sleeptalker” se confundem com o funk de “Easier Said” e as camadas aveludadas da voz de Jane Penny, vocalista da TOPS.
Por outro lado, essa superficialidade ainda é capaz de entregar momentos de beleza transcendental da música.
Tanto Tender Opposites quanto Picture You Staring seguem linhas de composição rígidas, nas quais as variações são menos importantes, aproximando cada um dos registros de temas que vão conduzir as obras.
O sono, por exemplo, é tema recorrente no álbum de 2014, e vão desde a marcha de sintetizadores de “Superstition Future” até as anti-baladas de “Diverless Passenger” e “Destination”.
Não importa muito a profundidade para o trio do TOPS, que prefere uma superficialidade metafórica, em que riffs e melodias brilham e encantam através de composições concisas e arranjos sem muita perfumaria, explorando uma certa despretensão pop, furtiva e sussurrante.
Inevitavelmente, nota-se um avanço, mesmo que modesto, entre Tender Opposites e Picture You Staring. O que talvez pese negativamente sobre isso é que espera-se que haja amadurecimento entre trabalhos, de onde surjam arranjos e composições mais ousadas, e mesmo que seja perceptível o refinamento do artista entre um registro e outro.
Por outro lado, essa superficialidade ainda é capaz de entregar momentos de beleza transcendental da música, aqueles em que parece que vimos algo marcante acontecer em nossa frente, a ponto de tornar um registro marcante e perpetuá-lo em nossos tímpanos. Desde já, ansioso para ver Jane, David Carriere e Riley Fleck ao vivo na edição de Curitiba do Secret Festival.
NO RADAR | TOPS
Onde: Montreal, Canadá.
Quando: 2011.
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