Mais de 10 anos separam a entrevista de Ivan Santos, músico e agitador cultural, para o jornalista Marcelo Costa no portal de música do Terra (leia aqui). Nela, Santos fazia críticas ao público e à cena musical curitibana. Dentre os problemas apontados naquele primeiro de junho de 2004, como a falta de espaço nas rádios locais e a ausência de união entre os vários movimentos existentes, muitos ainda persistem.
O segmento musical viveu ao longo dos últimos 15 anos uma profunda transformação. O surgimento da internet possibilitou aproximar público e artistas sem a necessidade de intermediários. Todavia, nesse cenário sofreram gravadoras e bandas que encontraram grandes dificuldades em se adaptar.
Já não fazia mais sentido comprar o disco de algum artista, pois era possível encontrá-lo gratuitamente em sites de downloads ou através de redes sociais de música, como a já extinta Tramavirtual.
Nesse novo contexto, a música autoral tornou-se acessível, não apenas para quem produz, mas também para quem consome. Surge então um novo problema para os músicos: como se destacar em um mar de infinitas produções, bandas e novos artistas? Em um mundo ideal, estas teriam um maior poder de mobilização, agrupando-se e compreendendo a importância do fortalecimento da cena local. Já o público estaria ávido por consumir tudo que lhes fosse oferecido. Pois bem, estamos longe disto.
Como apontado por Santos, Curitiba não possui uma cena local, mas sim “várias pequenas cenas paralelas que convivem de forma estanque, não existindo entre elas comunicação”. Se em 2004 isso era uma regra, em 2015 não é diferente.
É importante sinalizar que a realidade da música no Paraná tem como responsáveis todos nós: público, estabelecimentos, mídia e artistas.
Outro problema possível de ser constatado é que em nossa cidade (e no Brasil), as bandas e artistas autorais costumam ter menos espaço nos bares e casas de shows que, por sua vez, mantêm suas agendas repletas com bandas cover. Isto tudo parece indicar uma menor procura por parte do público por artistas que façam música autoral.
O interesse desta coluna, entretanto, não é debater a realidade da indústria fonográfica, tampouco fazer conjecturas sobre as razões da letargia da cena local. Essa apatia já foi debatida à exaustão, sendo inclusive tema de matéria realizada em 2013 pelo jornalista Marcos Anubis (leia aqui). Contudo, é importante sinalizar que a realidade da música no Paraná tem como responsáveis todos nós: público, estabelecimentos, mídia e artistas.
O intuito então d’A Escotilha com esta coluna é, além de trazer informações sobre produções locais (festivais, shows, eventos), servir como um radar, apontando e trazendo à luz informações sobre os artistas, procurando fomentar a discussão sobre a produção local.
Cabe aqui uma explicação acerca do nome da coluna. Prata da casa é um termo comumente empregado no futebol e que designa os jogadores formados nas categorias de base do clube. Lugar onde surgem os craques, os camisas 10, as peças mais talentosas. O principal ativo de um grande clube.
Não há melhor maneira de começar este espaço do que deixando claro o desejo deste colunista: mostrar que santo de casa faz milagre sim.