2014 foi, sem sombra de dúvidas, um ano especial. Em visita ao Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, entrei em contato com o “universo David Bowie”. Sim, o multiartista inglês, mais conhecido, talvez, por sua veia musical, foi um universo todo à parte, e mergulhar, naquele lugar ímpar que é o MIS, em sua vida e obra, me fez sair um pouco mais completo desta vida – ou de quantas você precise.
Para muito além de suas incursões no cinema, nas artes plásticas e visuais, na moda, na literatura ou na música, Bowie foi, muito provavelmente, o mais próximo que estive de um gênio. A influência do Camaleão é longa, quiçá tornando possível uma nova divisão de eras: AB e DB, simples assim. Antes de Bowie, bem, obviamente tivemos gênios na música e em outras artes, mas é Depois de Bowie que compreendemos o verdadeiro poder de uma vida dedicada às artes, que, creio eu, sejam uma forma do músico decifrar-se. David Bowie e a esfinge, “decifra-me ou te devoro”.
É difícil, muito difícil traduzir em palavras toda a complexidade do cantor. Razão para que as horas passadas em sua exposição fossem de completo silêncio. Nenhuma voz, além da do próprio músico, era permitida no MIS. Claro que isso é apenas uma brincadeira, uma metáfora para o silêncio ensurdecedor que tomava cada uma das pessoas que atravessava cada sala, cada ambiente. Tirei menos fotos do que gostaria, mas o suficiente. Gravei cada pedaço de suas vestimentas, dos trechos de suas atuações no cinema, os traços de sua escrita e otras cositas más na memória. Assim também foi com os demais.
Era raro ver alguém empunhando uma máquina fotográfica ou seu smartphone para além das primeiras salas. Algo maior estava diante de nós, e nos perdermos em minutos gastos frente a um aparato eletrônico, bem, era desnecessário. Para que queimar a retina com as luzes de um celular se pude registrar com perfeição seus contos?
Bowie chegou aos 69 anos com uma carreira irretocável.
Bowie chegou aos 69 anos com uma carreira irretocável. Na bagagem, 26 álbuns de estúdio – o último, Blackstar, vazou na internet no dia 31 de dezembro de 2015 –, inúmeras canções inesquecíveis, shows memoráveis (mesmo que somente dois deles no Brasil). Bowie foi vários, infinitos. Cada um que escrevesse um texto por seu aniversário ou sobre ele certamente o faria de maneira diferente. No meu caso, resolvi recordar este encontro de 2014.
Não estive nem próximo de sua genialidade, mas fico feliz que tenhamos dividido, ao menos, uma coisa: o signo. De resto, tenho Paulo Camargo como um grande amigo e que já o entrevistou. Gostariam de ler este texto? Vamos pedir que publique, que tal? David Bowie agradece, ou nós que agradecemos ao Bowie.
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