Quando se ouve o primeiro riff de “Kali”, faixa instrumental que abre o primeiro álbum da Voltaire Rock Club, Somos Instantes, cria-se a impressão que vem um petardo sonoro nas próximas nove faixas que compõem o registro.
No entanto, a partir de “Senhor do Meu Tempo”, fica evidente que, apesar de ser uma sequência de riffs consistentes, mezzo melódicos, mezzo densos, a ideia por trás do disco é outra. Com um arranjo primoroso, Somos Instantes peca em cativar, já que opta por um peso asséptico que transita entre um rock pop e baladas, que apesar de bem construídas, não saem liricamente do lugar-comum. Ao que pese a qualidade dos músicos, o trio João Carlos, Alex Felipe e Bruno Valle, nota-se a ausência de uma personalidade mais madura e uma certa dificuldade de tratar com profundidade os temas trazidos ao disco.
[highlight color=”yellow”]A Voltaire Rock Club ainda parece tentando lapidar uma identidade propriamente sua[/highlight], mas falta ao disco (e precisa ser corrigido para os trabalhos seguintes) organizar melhor a sonoridade, tornando essa união de música e literatura em um casamento coeso. As melodias no desenrolar de Somos Instantes se dissolvem, desmanchando um pouco aquela imagem de um peso moderno, encorpado.
A Voltaire Rock Club ainda parece tentando lapidar uma identidade propriamente sua, mas falta ao disco organizar melhor a sonoridade.
Alguns elementos teriam feito muita diferença no resultado final de Somos Instantes se tivessem sido pensados durante a produção, como acrescentar algumas camadas de arena rock, que transformariam todo o trabalho ao agregar a ele uma roupagem menos intimista. Ou seja, se manteria a alma direcionada às vertentes mais caracterizadas com o mainstream sem perder o direcionamento criativo proposto pelo grupo curitibano. Sem isto, [highlight color=”yellow”]dá a sensação que a Voltaire Rock Club não se decidiu entre a perpetuação do pop ou a urgência de suas referências roqueiras[/highlight].
Contudo, é preciso elogiar a forma como a banda procura evocar a melancolia sem clichês e, ainda que não atinge o ápice, tenta criar uma obra pungente. Provavelmente as canções encontrem eco no público, até porque elas não são ruins, apenas foram tão bem trabalhadas.
Da forma como foi gravado, se destacam as faixas “Senhor do Meu Tempo”, “Dúvidas e Desejos” e “Somos Iguais”, as mais representativas do registro. Mas certamente a memória não irá esquecer daqueles trinta e três segundos de “Kali”, um dos melhores instrumentais da música paranaenses deste 2017. E é justamente a beleza deste instrumental que me dá a certeza de que há algo muito interessante guardado na Voltaire Rock Club, mas eles precisam urgentemente colocar isso para fora. O público irá agradecer, eu garanto.