Música é uma arte que coloca o sangue em ebulição. Seja quando ela surfa na vanguarda ou dá uma espiadela para o passado. XIII, primeiro álbum completo da Watch Out for the Hounds, trava uma batalha árdua: ser o primeiro registro que apresente o grupo em sua fase mais madura.
A trajetória da banda é uma ode às referências que os cercam, ao mesmo tempo que um triunfante caminhar em direção à contemporaneidade sonora. De todas as camadas de influências que se notam em XIII, um compêndio muito maior do que em seu EP Release the Hounds, é interessante notar o esforço em superar os próprios caminhos já trilhados.
O quinteto faz de suas canções romances (literários, diga-se) profundos e intrincados, sem perder a verve que tanto os caracteriza. Ao invés de distanciar do processo que os conduziu até o primeiro álbum, a Watch Out for the Hounds dá um passo adiante, ainda imprimindo doses de música cigana, mas também priorizando arranjos mais heterogêneos que traduzem um universo sonoro muito maior, seja por notas de jazz, blues ou até pelo flerte com o legado mais recente do rock and roll (como não recordar de Noel Gallagher’s High Flying Birds, do ex-Oasis Noel Gallagher, ao ouvir XIII?).

O grupo faz algo que, por vezes, soa improvável para o rock alternativo atual: capturou a pluralidade da vida sob uma ótica mais cristalizada, oferecendo um choque revigorante de passado, presente e futuro. Essa intensidade do grupo merece elogios, ainda, por tornar esse jogo entre o inglês e o português (ainda que o primeiro seja predominante) em uma espécie de abraço, onde as harmonias vocais e o instrumental casam em um interessante contraste.
O grupo faz algo que, por vezes, soa improvável para o rock alternativo atual: capturou a pluralidade da vida sob uma ótica mais cristalizada.
XIII inicia de forma ligeiramente discreta, mas escala conforme o ritmo é acelerado. Fica bem claro e de fácil distinção as linhas líricas trabalhadas no álbum. É uma grata surpresa ver como o folk pode ser relativamente formal, mas ainda assim gradualmente complexo, em oposição ao pastiche sonoro que ilustra o gênero quando pensamos nas inúmeras reproduções miméticas de trabalhos de indie folk mais recentes.
Não se trata de dizer que XIII e a Watch Out for the Hounds reavivam um gênero orgânico por si só, mas é importante ressaltar como projetam sua proposta folk acentuando a personalidade que talharam para si, evidenciando uma volatilidade melódica ímpar sem tropeçar na cacofonia.
O esforço é recompensado e o disco se beneficia desse suingue um tanto jazzy, certamente um retrato de seis artistas que optam por implodir seus limites criativos e soar relevantes (e pop) a uma audiência ávida por este encontro entre música e modernidade. A liberdade criativa nunca foi tão importante como agora e a Watch Out for the Hounds parece ter capitalizado bem isso.