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Ataque à cultura

porBruno Zambelli
22 de fevereiro de 2019
em Teatro
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No exato momento em que esse artigo é redigido, a Alemanha trava uma batalha em nome de sua cultura e em defesa da liberdade artística. Nos últimos meses, a AFD (Alternativa para Alemanha, partido populista de extrema-direita) iniciou uma ofensiva contra artistas, grupos e espaços artísticos em Berlim, capital do país. A principal batalha do partido seria, segundo membros, travada para cortar o orçamento de três teatros “impopulares”, que na visão da AFD produzem lixo ao invés de arte. A régua dessa turma? A ordem, a moral, os bons costumes, o respeito às obras e à verdadeira “cultura alemã”, leia-se a “nossa cultura”.

Como sempre, essa turma impõe essa “lei” aos outros, não a eles próprios, evidentemente. Além de atos e discursos em defesa da perseguição e da censura, simpatizantes das causas, e dos crimes cometidos pela AFD, tornaram-se agentes de censura movidos pelo ódio e pela estupidez. Não são raros os casos em que apresentações foram interrompidas de maneira violenta, ao som de palavras de ordem, e artistas tiveram de defender, no corpo a corpo, o seu direito de criação e manifestação; a sua liberdade artística.

Ulrich Khuon, presidente da Deutsches Bühnenverein, organização que representa 430 teatros, companhias de teatro, balé e ópera da Alemanha, comentou um dos casos como “um assalto violento: gritos, intervenções, tentativas de agressão. Nós temos que lutar contra isso, temos de deixar claro o quão perigoso é o que está acontecendo”. A situação, fora de controle, fez com que a Deutscher Bühnenverein distribuísse folhetos com dicas para lidar com o tal “Kulturkampf von rechts”. A preocupação dos alemães é justificável. Segundo o Senador Klaus Lederer, em países como a Hungria e a Polônia, dominados por uma direita popular e mão de ferro, é possível ver “como uma sociedade antes aberta vem a se tornar estreita, fechada”.

O quiproquó germânico não é caso isolado no mundo, infelizmente. Num outro exemplo recente, Miri Regev, conservadora convicta e Ministra de Cultura e Esporte de Israel, criou a tal Lei de Lealdade Cultural, sobre a qual escreverei em artigo em ocasião oportuna. Por hora basta dizer que a lei permite que ministros controlem as artes e cortem financiamentos, vetando repasse de verba, a todo e qualquer grupo que desrespeite a bandeira, incite o racismo ou a violência, ou ainda “tente subverter Israel como Estado judeu e democrático”. Um horror, sim, mas não existe novidade no ataque.

Se analisarmos a história da arte, junto à história do próprio homem, veremos que durante os séculos a cultura sempre enfrentou os mesmos fantasmas. De Adolf Hitler a Josef Stálin, de Papa Doc a Videla, passando por Pinochet, Hussein e Amin Dada, citando apenas ditadores recentes, o ataque à cultura independe da escolha ideológica do cretino que a oprime. É preciso dizer, também, que não apenas os ditadores, todos eles genocidas, se dão ao luxo de atentar contra a liberdade artística e, consequentemente, contra a cultura. Nos últimos meses, por exemplo, assistimos em diversas ocasiões ofensivas do tipo. Os responsáveis são tão diversos quanto as mentiras que contam para justificar seus atos.

Miri Regev, ministra israelense
Miri Regev, ministra israelense. Imagem: Dan BaliltyReuters.

De Adolf Hitler a Josef Stálin, de Papa Doc a Videla, passando por Pinochet, Hussein e Amin Dada, citando apenas ditadores recentes, o ataque à cultura independe da escolha ideológica do cretino que a oprime.

Líderes religiosos, políticos, empresários e até mesmo artistas levantam a voz e exigem a suspensão desse ou daquele espetáculo, a condenação, seja ela moral ou criminal, de artistas e o fechamento de exposições e espaços destinados à cultura. Não é preciso dizer que o público, compreenda-se população, deixa-se levar, na maioria das vezes pela admiração, e acaba por andar de acordo com a vontade do senhor da vez, endossando todo tipo de absurdo em nome de uma moral completamente imoral e até mesmo criminosa, afinal a liberdade é, quase sempre, defendida através de leis mundo a fora.

Por aqui, bravas terras tupiniquins, a coisa segue no mesmo ritmo e tom. O presidente Jair Bolsonaro sempre demonstrou antipatia a todo tipo de conhecimento, arte e bom senso. Seus discursos, sempre curtos e mal articulados, soam como uma ode à ignorância e à truculência, por isso não é de se espantar que presidente, asseclas e eleitores encontrem na cultura um inimigo de peso, e por isso mesmo a ataquem sistematicamente. Se à época do pleito Jair apenas acenava que, caso eleito, “reformularia” as leis culturais no Brasil, após sua eleição o atentado à cultura nacional, e à liberdade artística, ficou claríssimo e a guerra foi declarada.

Assim que assumiu o cargo, cumpriu o que prometera e extinguiu o Ministério da Cultura, que junto aos Ministérios do Esporte e do Desenvolvimento Social faz parta de um único, denominado “Ministério da Cidadania”. O responsável pela pasta, Osmar Terra, citado e investigado na Operação Lava-Jato, admitiu que não sabe nada sobre o tema. Quando perguntado a respeito, o ministro fanfarrão respondeu, entre gargalhadas, que a ligação que tinha com a cultura era “tocar berimbau”, mostrando que a estupidez e a falta de preparo são condições imprescindíveis para fazer parte do time de um também estúpido e despreparado Capitão.

Recentemente, o deputado Alexandre Frota se pronunciou a respeito de um possível “pente fino” nos projetos financiados via Lei Rouanet. O histerismo do troglodita foi provocado pela repercussão do discurso, oportuno, de Wagner Moura no Festival de Berlim (Berlinale), quando da exibição de seu longa-metragem Marighella, cinebiografia do poeta, ex-deputado e guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado pela ditadura militar em 1969. Falando a respeito de mecanismos e leis que desconhece, movido pelo ódio e não pelo conhecimento, Frota bradou que os artistas “de esquerda” devem estar preparados, deixando claro que há, por parte de governo e aliados, a clara intenção de perseguir artistas que discordem, ou denunciem, suas ideias absurdas de cultura.

Como disse, não é de hoje que a cultura paga pelos crimes que não cometeu. Ela, essa tal de cultura, tadinha, vive entre a cruz e a espada; com o pescoço abraçado pela áspera corda da moral e a têmpora sempre no caminho das balas dos homens de bem, estejam eles fardados ou não. Desvalorizada e desacreditada, vive desorientada entre a realidade e o sonho, entre o desejo e a impossibilidade, e geralmente só acorda na base do safanão; coisa de hábito. Arrancando forças não se sabe donde, a cultura resiste, e resistirá sempre, mas está cansada de pagar pelos crimes que não cometeu, enojada de viver entre a cruz e a espada.

É preciso que artistas, público e produtores unam-se, acima de tudo. Existe, por óbvio, um inimigo comum a ser derrotado, e só conseguiremos a vitória se estivermos juntos. É preciso não cair na garra dessa gente. É preciso não acreditar num bom-mocismo que serve apenas ao inimigo, transformando-nos em nossos próprios censores, fazendo com que patrulhemos uns aos outros, fragmentando aquilo que é um único bloco, afinal estamos todos do mesmo lado.

O artista, nos dias atuais, precisa livrar-se de si mesmo, explodir esse conceito de arte voltada para o ego, esquecer essa mania de arte-umbigo criada por uma sociedade burguesa que idolatra seus bobos da corte. A criação só é possível se o espírito estiver ardendo, em chamas, no fogo das paixões revolucionárias. A cultura sobrevive, sim, sempre, mas anda cansada de ser considerada nada, justamente por saber que há muito tempo ela é tudo. Tudo aquilo que nos resta de humanidade, de sonho e de futuro.

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Tags: AFDAlexandre FrotaAlternativa para a AlemanhaArteCulturaDeutsches BühnenvereinJair BolsonaroKlaus LedererKulturkampf von rechtsLei Lealdade Cultural Estado de IsraelLei RouanetMarighellaMiri RegevOsmar terraTeatroUlrich KhuonWagner Moura

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