O ser humano no palco vira automaticamente personagem? Com essa pergunta em mente, foi um pouco assustador assistir a Blank no último domingo (9), uma das derradeiras peças do Festival de Teatro de Curitiba 2017. O Teatro Bom Jesus estava lotado de fãs de Gregório Duvivier, com um ou outro membro da classe teatral.
Alerta de spoiler, já que não tem como comentar a experiência sem entregar o jogo do dramaturgo Nassim Soleimanpour. Um jogo teatral em que o público participa lepidamente, ansioso por ser a voz que gritará mais alto, será ouvida e entrará no texto.
Duvivier foi um dos atores convidados para conduzir a brincadeira, cada um numa noite, com o detalhe de que eles recebem o texto a ser lido somente quando já subiram ao palco.
O espetáculo começa aquecendo a plateia, estimulada a completar espaços em branco do texto do iraniano.
O espetáculo começa aquecendo a plateia, estimulada a completar espaços em branco do texto do iraniano, conhecido por peças sem ensaio nem cenário. Depois de levada ao delírio com suas próprias criações (que podem ser mais ou menos inspiradas, dependendo do público), a audiência deste domingo se viu levada para dentro de um exercício de futurologia.
Chamado ao palco, um rapaz disse sentir-se corajoso, ainda que visivelmente nervoso. Viu também a plateia rir, porque sua mãe mora em Pinhais (região metropolitana de Curitiba). Sua longa estada nos holofotes terminou com detalhes de como seria sua morte. Não a de um personagem, mas sua própria. E a plateia ria, ria até não poder mais.
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É hábito rir num show de humor (caso contrário ele seria um fracasso!), e ali estava um dos humoristas mais bem sucedidos do momento. Mas rir das minúcias do último dia de um homem é… (espaço em branco para você completar).
Acho péssimo escrever opinião para falar mal do público, não me entenda mal. Só quero explicar por que aquilo tudo foi tão estranho. Queria voltar e experimentar de novo.