Desde os primórdios, e pelo visto a coisa está longe de uma solução, os trabalhadores da cultura se veem jogados à própria sorte. Existem diversas razões para tanto e enumerá-las seria, além de uma tarefa dolorosa, uma perda de tempo.
Sabemos que contamos com sindicatos omissos e preguiçosos, temos a certeza de que não existe uma solução funcional no horizonte e parece, pra onde quer que se olhe, que tudo no Brasil está fadado a permanecer como é, sempre foi, ou mudará pra pior.
Não está fácil, mas existem pequenas iniciativas, ações diretas, que tornam essa existência um tantinho mais aceitável. Uma delas é o SOS Técnica SP, um movimento espontâneo de civis técnicos da cultura, que tem chamado a atenção para a vulnerabilidade da categoria, antes e depois da pandemia.
O movimento, que divulga uma campanha de colaboração espontânea, tem a intenção de denunciar a condição absurda em que esses profissionais têm sobrevivido e busca fazer justiça através da afronta e da valorização do papel imprescindível que esses trabalhadores desempenham diariamente em defesa da cultura e da arte.
Fortalecendo uma luta antiga, criando e divulgando conteúdo em seus canais, o movimento traz à tona a situação precária em que vivem esses trabalhadores, além de discutir leis e oferecer propostas para repensarmos, e reinventarmos, as condições de trabalho no campo cultural.
Conheci a iniciativa depois do diretor, dramaturgo e ator Ivam Cabral, fundador do grupo Os Satyros, tornar público em suas redes sociais a constatação de uma estatística trágica em relação a essa classe de trabalhadores. No entanto, apesar de tudo e da dor dos números, é possível, e preciso, lutar.
O objetivo é conseguir atingir o máximo possível de profissionais da área técnica, que de alguma forma tenham sido impactados diretamente pelo cancelamento de seus trabalhos devido à pandemia.
Criando Memórias
Com perfil no Facebook e Instagram, e um financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria, o SOS Técnica SP procura arrecadar R$ 50 mil para colocar em prática o projeto Criando Memórias. O objetivo é conseguir atingir o máximo possível de profissionais da área técnica, que de alguma forma tenham sido impactados diretamente pelo cancelamento de seus trabalhos devido à pandemia.
Ele será um registro das histórias destes profissionais, que receberão um auxílio financeiro de R$ 500 (quinhentos reais) e a possibilidade de contribuir com suas memórias e experiências para um registro histórico das funções técnicas existentes nas áreas de entretenimento e cultura. Nomes como André Abujamra, Guilherme Webber, Tete Espíndola, Lilian Blanc e Criolo endossaram a proposta, convocando as pessoas a colaborarem com o financiamento coletivo
Iniciativas como a SOS Técnica SP são imprescindíveis, é claro, mas também são a prova de que precisamos, e muito, nos unir em defesa da cultura, de seus trabalhadores e da possibilidade do encanto que só a arte, em toda a sua imensidão, pode proporcionar a terras em transe e sem esperança como a nossa.