Prima Facie é um espetáculo que não deixa ninguém indiferente, especialmente pela intensidade e profundidade de sua trama. Em sua estreia ontem no Festival de Curitiba, o espetáculo foi ovacionado em uma sessão lotada no Teatro Guaíra, onde a plateia foi completamente absorvida pela tensão da narrativa. A interpretação de Débora Falabella, que dá vida à protagonista Tessa, é o corpo e a alma da montagem.
Escrita pela dramaturga australiana Suzie Miller, a peça acompanha Tessa, uma jovem advogada promissora cuja vida é drasticamente alterada após ser vítima de abuso sexual. Acompanhamos sua luta para superar o trauma pessoal e, ao mesmo tempo, enfrentar um sistema jurídico que frequentemente prioriza a proteção dos poderosos em detrimento da justiça para as vítimas. Prima Facie torna-se, assim, um estudo feroz sobre a manipulação da “verdade legal” e a árdua jornada de uma mulher que busca justiça em um sistema que parece conspirar contra ela.
No papel de Tessa, Débora Falabella entrega uma performance que combina força e sensibilidade, digna de sua premiação com o Prêmio Shell. Reconhecida por seu talento no cinema e na televisão, Falabella transmite uma energia única no palco, alternando com maestria momentos de vulnerabilidade e grande intensidade emocional. Sua atuação é tão precisa e carregada de nuances que conquista o público desde o primeiro momento, criando empatia e reflexão, e proporcionando uma interpretação que eleva a trama a um nível emocional profundo.
Vale destacar que o papel de Tessa já foi interpretado por Jodie Comer (de Killing Eve), que venceu o Tony Award de melhor atriz por sua atuação na versão original da peça em Nova York. O reconhecimento internacional de Comer evidencia a profundidade e o impacto emocional da personagem, um testemunho do potencial transformador da obra.
A direção de Yara de Novaes, por sua vez, é essencial para o sucesso do espetáculo. Com uma abordagem sofisticada e sensível, Yara constrói uma atmosfera de tensão crescente, mantendo o público em suspense durante toda a peça. Sua direção consegue equilibrar a intensidade dramática com o ritmo da narrativa, extrair o máximo de cada momento emocional e garantir que o público se sinta imerso na história.
A direção de Yara de Novaes, por sua vez, é essencial para o sucesso do espetáculo. Com uma abordagem sofisticada e sensível, Yara constrói uma atmosfera de tensão crescente, mantendo o público em suspense durante toda a peça.
A cenografia de André Cortez, sombria e minimalista, reflete a opressão vivida por Tessa, enquanto os figurinos de Fabio Namatame, sóbrios e discretos, complementam o tom da peça. A iluminação de Wagner Antonio, com sua habilidade em criar atmosferas densas, e a trilha sonora de Morris, gelada e imersiva, intensificam ainda mais a tensão da narrativa, criando uma sensação de desconforto psicológico que mantém o público em alerta constante.
O Shell de melhor atriz, concedido a Débora Falabella, é um reconhecimento mais do que merecido pelo seu trabalho impecável. Sua atuação não apenas conquista, mas provoca, levando o público a refletir sobre as falhas do sistema de justiça e sobre a luta contínua das mulheres para serem ouvidas e respeitadas.
Prima Facie é uma peça poderosa, que não só emociona, mas também desafia o espectador a refletir sobre questões cruciais da sociedade contemporânea. Sem dúvida, um dos melhores espetáculos da atualidade, que deixará uma marca indelével em todos que tiverem a oportunidade de assisti-lo.
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