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Crítica: ‘Rei Lear’ veste Shakespeare com a estética drag – Festival de Curitiba

Mais do que um espetáculo, 'Rei Lear', apresentada no Festival de Curitiba, é um ato político. Não é uma encenação tradicional, tampouco um rompimento gratuito com o cânone. É uma fusão incendiária sobre o palco.

porPaulo Camargo
1 de abril de 2025
em Teatro
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A grandeza da peça reside exatamente em sua resistência a rótulos e fórmulas prontas. Imagem: Tetembua Dandara / Divulgação.

A grandeza da peça reside exatamente em sua resistência a rótulos e fórmulas prontas. Imagem: Tetembua Dandara / Divulgação.

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O Festival de Curitiba, na noite de ontem, incendiou o Teatro Guairinha com uma proposta audaciosa na Mostra Lucia Camargo. Sob a condução destemida de Ines Bushatsky, uma releitura vibrante de Rei Lear tomou forma, desafiando convenções ao fundir a tragédia clássica de Shakespeare com a exuberância da estética drag. No palco, nove queens da Cia. Extemporânea reimaginaram a trajetória do soberano que, ao transformar o amor em barganha, desencadeia um turbilhão de enganos, decepções e destruição.

O clássico shakespeariano é uma investigação impiedosa sobre os abismos da existência humana. Rei Lear desmantela estruturas de poder, esfacela a ilusão de domínio e expõe um universo em que orgulho e cegueira emocional se tornam instrumentos de autodestruição. O rei, ao exigir provas de devoção para repartir seu legado, ignora que o verdadeiro afeto não se submete a gestos vazios. A filha mais nova, Cordélia, por se recusar a adular o pai, é condenada. Enquanto isso, suas irmãs, mestras da manipulação, mostram-se vorazes e traiçoeiras. O enredo se desenrola como um teatro de dissimulação, onde palavras seduzem e a verdade se revela um peso insuportável.

Bushatsky, ao lado do dramaturgo João Mostazo, investiga as fissuras dessa identidade despedaçada. Shakespeare constrói sua tragédia sobre o colapso do eu: Lear perde seu nome, seu prestígio, sua sanidade. Nesta adaptação, esse desmoronamento ganha novas dimensões. O espetáculo abraça a mistura de linguagens, combinando a solenidade do teatro clássico com a liberdade da performance drag, dissolvendo barreiras entre o sublime e o extravagante. Aqui, a autenticidade não emerge da contenção, mas do excesso e da teatralidade.

A obra original já se sustenta sobre ambiguidades: mentiras disfarçadas de carinho, farsas assumidas como verdades. Essa duplicidade ressoa com a essência da arte drag, onde identidade e ilusão coexistem. Bushatsky e Mostazo aprofundam essa intersecção. A fusão entre tragédia e cultura queer se intensifica, trazendo à tona camadas políticas e emocionais de rara potência.

A grandeza da encenação reside exatamente em sua resistência a rótulos e fórmulas prontas. Não se trata de uma adaptação convencional, nem de uma mera desconstrução irreverente. É um espetáculo que provoca, expande e reinventa.

A grandeza da encenação reside exatamente em sua resistência a rótulos e fórmulas prontas. Não se trata de uma adaptação convencional, nem de uma mera desconstrução irreverente. É um espetáculo que provoca, expande e reinventa. O palco se transforma em um cabaré grandioso, repleto de luzes vibrantes e névoa densa, acentuando os contrastes entre humor e tragédia. A jornada de Lear, filtrada pela estética camp, oscila entre o cômico e o devastador.

Destaca-se na montagem a atuação de Alexia Twister, no papel de Rei Lear, performance que lhe rendeu o Prêmio Shell de Teatro 2025 na categoria de melhor ator.

Um dos momentos mais arrebatadores acontece na icônica cena da tempestade, na qual o colapso mental do rei se manifesta. Em vez de uma abordagem naturalista, a montagem aposta em uma batalha de lipsync ao som de “It’s Raining Men”, das The Weather Girls. O resultado? Um choque entre riso, desespero e subversão, escancarando Lear não apenas como um personagem em ruína, mas como o espelho de uma humanidade fragmentada.

Essa abordagem não apenas amplia as interpretações da peça, mas também desafia os discursos normativos sobre a arte drag. Em um país onde a população LGBTQIAPN+ ainda enfrenta violência e marginalização, e onde a cultura drag é frequentemente reduzida a formatos comerciais, essa montagem resgata seu caráter insurgente e combativo. Mais do que um espetáculo, é um manifesto.

Ao romper as fronteiras entre teatro clássico e cena underground, Bushatsky e Mostazo não só reinterpretam Shakespeare — eles reafirmam sua essência. O bardo inglês nunca pertenceu à elite impenetrável, mas a um público ávido por intensidade, provocação e emoção crua.

Rei Lear sempre foi uma história sobre ilusões que se despedaçam. Aqui, ele renasce como uma performance drag: irreverente, visceral e perigosamente verdadeira.

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Tags: Alexia TwisterCia. ExtemporâneaFestival de CuritibaInes BushatskyRei LearTeatro

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