Para crianças e adultos, ‘Gaiolas’ traz reflexão sobre grades físicas e mentais
Por um lado, simpáticos bonecos de fantoche mostram às crianças a importância de valorizar a natureza de maneira livre.
Por outro, adultos são levados a refletir sobre as grades físicas e mentais.
Assim foi o espetáculo Gaiolas apresentado no Mini-Guaíra pela Cia. La Polilla de Teatro de Bonecos (Paranaguá/PR) como parte da programação do Fringe, mostra paralela do Festival de Curitiba.
Resultante do Projeto Manipular, a peça teve seu elenco formado pelos tutores da oficina e dois dos seus alunos, que apresentaram com delicadeza a história de um menino que perdeu a sua pipa e depois, admirado com o canto de um pássaro, resolveu aprisioná-lo.
A peça teve seu elenco formado pelos tutores da oficina e dois dos seus alunos, que apresentaram com delicadeza a história de um menino que perdeu a sua pipa e depois, admirado com o canto de um pássaro, resolveu aprisioná-lo.
Mas, passarinho na gaiola não canta.
Por isso o menino dormiu decepcionado e, sendo ao mesmo tempo carcereiro e prisioneiro, cresceu e se tornou um homem fechado, egoísta e mau, tal qual a “Canção do Amor Imprevisto”, poema de Mario Quintana, que serve de inspiração para a obra teatral.
E assim como no poema publicado no segundo livro de Quintana, Canções (1946), o personagem da peça é tocado pelo amor. A boca fresca de madrugada, o passo leve e os cabelos fazem com que o homem se sinta livre e elevado às alturas.
No entanto, não demora para que ele também aprisione a mulher, que de maneira metafórica é levada pelos pássaros, assim como ele posteriormente.
Felizmente, tudo não passou de um sonho.
Dessa maneira, usando uma linguagem poética em sua narração, a montagem comunica de maneira rápida, eficiente e delicada a ideia de que “se você ama uma flor, não a colha. Por que se colhê-la, ela morre e deixa de ser o que você ama. Então se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação”.
Assim é com a flor e também com pessoas e pássaros, que aparecem de maneira sublime tanto na obra dirigida por Rogério Soares como na do poeta gaúcho, mesmo que nesta os animais pousem sobre um espantalho que não tem utilidade por não conseguir afastar os voadores que representam o amor e sua “dolorosa alegria”.
Mas enquanto no poema estar atônito pode causar certa agonia ao eu lírico, na representação teatral esse é o melhor estado a se adotar diante da natureza, aceitando o seu caráter e aprendendo a admirar sua beleza sem aprisioná-la.