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‘I, Worker’: quando os atores virarem robôs

porBruno Zambelli
29 de março de 2018
em Teatro
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É início de noite de sábado e o frio afastou algumas pessoas da cidade. Lá fora, uma horda de casacos, em sua maioria negros, divide as ruas com uma fina garoa que parece pesar mais a cada segundo nos ombros gelados e cansados dos transeuntes. As luzes da praça central não irradiam mais o amarelo solar das noites de verão. Agora parecem mais obscuras. Já não ostentam aquele brilho de cegar os olhos e sim uma coloração âmbar, opaca. Estão na verdade tão tristes e solitárias quanto qualquer ser humano diante dessa congelante existência.

O teatro em frente a praça já está aceso e de portas abertas. A sala tem um tamanho mediano, capacidade para quase 500 lugares, e o saguão está tomado de pessoas que aguardam o início do espetáculo. Alguns conversam, outros dirigem-se ao café para tomar algo quente antes do início da peça I, worker. Não muito longe dali, na coxia, uma atriz se aquece em preparação para entrar em cena. Anda de um lado para o outro, estala os dedos, respira fundo. Não demonstra nervosismo, mas busca uma espécie de concentração pré-rito e isso a deixa levemente agitada. Vai até uma mesa próxima e busca com as mãos, no meio do breu, um caderno velho. Devem ser anotações sobre marcações.

Os olhos, forjados na escuridão dos teatros, tentam em vão scanear o conteúdo do papel. Agora tudo não passa de escuridão e eternidade, ao menos até que toque o terceiro sinal. Na direção da coxia em frente, em cima do palco, uma outra mulher. Essa, diferente da primeira, permanece inalterada. Não se move, não se prepara. Às vezes, tem-se a impressão de que ela é incapaz até de respirar. Uma mulher máquina, tão gélida quanto o vento que rasga a silhueta âmbar das luzes solitárias lá fora.

O terceiro sinal toca. O público dentro da sala fica em extremo silêncio. A mulher que estava na coxia ganha a cena e inicia sua fala. A outra, em algidez extrema, responde. A coisa segue assim até o fim, com entrada de um patrão e outros atores secundários vez ou outra. Pano. Aplausos.
Robovie R3, robô protagonista da peça em questão, não tem uma atuação digna de Oscar, pelo contrário. No entanto, sua simples presença fascina, e é inegável que o público está lá para vê-la, para crer naquilo que parece ficção científica. Sim, chegamos ao futuro!

Tão desconhecido quanto idealizado, o futuro é uma de nossas maiores obsessões. Delegamos tudo a ele: sonhos, planos, dúvidas. Mesmo sabendo que é impossível confiar no curso de suas inconstante correntes, mesmo sabendo que é o próprio futuro que nos rouba pouco a pouco o presente. Mesmo diante disso tudo seguimos na estrada da vida, com a crença no futuro pregada em nosso para-brisa.

Prever o futuro, por exemplo, é uma de nossas manias preferidas, e por isso mesmo sobram teorias e ideias, absurdas ou não, sobre os dias que estão por vir. Enumerá-las por aqui seria um trabalho hercúleo, infinito. O futuro pode nos guardar tudo. De tragédias ambientais e destruições em massa a rodovias suspensas acima de edifícios e imigrações interplanetárias. O futuro é, portanto, um eterno desconhecido.

Algumas suposições futurísticas já são realidade, independente de seu sucesso ou não. Hoje, por exemplo, já é possível em alguns locais de teste pegar um Uber e ser conduzido por um veículo sem motorista. Se a coisa dará certo ou não só o tempo dirá, no entanto ficou provado nos últimos dias que carros, independente de quem os guia, ou deixa de guiar, são armas em potencial. Outra realidade, sempre em fase de aperfeiçoamento, é a utilização de robôs em diversos campos. Há tempos é possível ser atendido por robôs em restaurantes, por exemplo, assim como máquinas de produção não deixam de ser também robôs.

Com o tempo, e através do fetiche, tomamos o caminho da ficção científica e passamos a criar máquinas humanas, com semelhanças absurdas com qualquer um de nós. Em todos os sentidos. IA. Nada de novo. Huxley e Orwell, para ficar nos mais famosos, já escreveram sobre os perigos das tais inteligências artificias. Jean-Luc Godard também foi pessimista a respeito do assunto, e como eles tantos outros. O fato é que a humanidade segue seu fluxo, um tanto quanto previsível, é vero! Se a coisa nos levará à destruição ou à consagração, talvez nunca saberemos, afinal ambos os processos são longos e nós, humanos, diferentes das máquinas, temos prazo de existência estabelecido.

Um robô no Teatro

I, Worker é uma peça de teatro encenada em 2016 pela companhia de teatro japonesa Seinendan, da qual só tomei conhecimento nos últimos dias e, apesar do atraso, não poderia deixar de comentar por aqui. O espetáculo foi escrito pelo dramaturgo Oriza Hirata, que também assina a direção da peça, em parceria com o engenheiro Takenubo Chikaraishi.

Dentro da dramaturgia, o diretor discute a própria relação do ser humano com os robôs, por isso a ideia de colocar atores representando humanos e atores robôs representando essas máquinas serviçais.

Dentro da dramaturgia, o diretor discute a própria relação do ser humano com os robôs, por isso a ideia de colocar atores representando humanos e atores robôs representando essas máquinas serviçais. O engenheiro admite que o intuito principal da peça não é o mérito artístico e sim o de testar a interação entre máquina e homem, e que o teatro tem sido uma ótima ferramenta para isso por conta de sua imprevisibilidade. Explico: apesar de ter gestos e diálogos pré-programados, a máquina precisa “se virar”.

Existem câmeras de vídeo e sensores a lazer que ajudam na locomoção da atriz metálica pelo palco, por exemplo. Além disso, como todos sabemos, uma peça de teatro nunca é a mesma. Diversos fatores influenciam em seu ritmo, nas intenções da fala, e mudam-se inclusive construções de personagens depois da estreia. Isso faz com que seja sempre necessário uma adaptação da máquina aos homens, esses seres inconstantes e imperfeitos.

A temporada do grupo foi um sucesso e os levou a criar mais espetáculos protagonizados por máquinas. Takenubo lembra que os robôs utilizados em suas peças são “cuidadores de idosos” adaptados para a arte da atuação.

Homem X Máquina

Eu, que já vi tanto ator robotizado por aí, confesso que não me avexo com a encenação japonesa, até porque, se fosse o caso, estaria avexando com pelo menos dois anos de atraso. A questão é que máquina e homem talvez estejam fadados a travar uma guerra eterna, iniciada há tempos e sem prazo de encerramento. Calma! Não existe um exército de máquinas a nos destruir em praça pública, tão pouco vivemos escondidos em subsolos fugindo de nossas criações perfeitas e geladas.

Talvez o sci-fi tenha ido longe demais. A tal Robovie R3 não é uma ameaça aos atores. Ao menos ainda não. O fato é que o esperado massacre imposto pela máquina tem a mão do próprio homem na condução e já é uma realidade. Afinal, esses “serviçais de aço” que poderiam dar ao homem tempo para o ócio, para a criação, acabaram por nos encurralar, a nos fazer trabalhar também feito máquinas em extensos e desumanos turnos. Todos nós, numa espécie de solidariedade entre os infelizes da terra.

Quais maquinas combater?

Vivemos tempos estranhos e de extrema violência. As violações e cerceamentos são uma realidade estabelecida em nosso cotidiano. Não só o Brasil como o mundo parecem caminhar para um futuro catastrófico, e muito desse futuro deve-se ao fato de estarmos subserviente às máquinas. Não às máquinas e mecanismos construídos para tornar a vida mais segura, para atenuar a crueldade da vida em todos os sentidos, mas às máquinas e mecanismos que servem a essa crueldade.

As máquinas que nos escravizam e vendem às poderosas corporações os nossos dados, as nossas vidas e os nossos sonhos. As tais máquinas que nos processam, nos embalam pra consumo e nos devoram. Essas são as verdadeiras a serem combatidas, aquelas que, como escreveu Marcuse, “sobrepujaram o mecanismo: a máquina política, a máquina dos grandes negócios, a máquina cultural e educacional que fundiu benesses maldições num todo racional”.

A guerra, em curso avançado, é o agora. Resta saber o que nos guarda o futuro, esse eterno desconhecido.

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Tags: AnáliseArtes Cênicasatoresatores robôsI WorkerOriza HiratarobôsSeinendanTakenubo ChikaraishiTeatro

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