É bem-vinda a continuação do projeto Iliadahomero, que agora desemboca na ilha de Calipso, onde Ulisses está aprisionado e impedido de voltar para a fiel Penélope.
Os 24 cantos da saga anterior, a Ilíada e sua guerra entre a razão e a força bruta, foram realizados dentro desse projeto por meio de monólogos, em que atores convidados interpretam um canto por cabeça, na tradução de Odorico Mendes.
Agora, já de vento em popa com diversos cantos da Odisseia por estrear (não realizados pela ordem), outros artistas começam a dar sua voz e corpo a esse “novo” texto de Homero.
Em temporada recente do Canto 5, o cenógrafo Fernando Marés fez seu retorno à arte de atuar, com uma surpreendente performance deste trecho da obra, que ele não escolheu por acaso.
“É onde Ulisses aparece pela primeira vez”, explica. “E me interessei por sua jangada.” Assim caminham os interesses artísticos, [highlight color=”yellow”]sempre subjetivos e tão intimamente ligados à experiência pessoal.[/highlight]
Marés nos mostra sozinho, conforme reza o método deste projeto, todas as vozes do Canto 5, a começar pelos deuses que negociam a sorte do herói. Mantido à força como amante de Calipso, ele chora todos os dias na praia, desejando voltar a Ítaca e sua família. A notícia de que deverá ser libertado e seu novo enfrentamento dos mares compõem o restante da ação do trecho, que termina com a chegada à pátria – longe de ser o desfecho da história.
Agora, já de vento em popa com diversos cantos da Odisseia por estrear (não realizados pela ordem), outros artistas começam a dar sua voz e corpo a esse “novo” texto de Homero.
O cenógrafo-ator traz esse acúmulo de personagens num corpo que carrega muita tinta, um acúmulo de úmidos ninhos pretos dispostos a passear pelo torso, braços e pernas pintando a fábula narrada.
Ulisses, quando fala, ganha iluminação e posicionamento gestual próprios, algo que também faz parte do projeto.
Quando singra os mares, a bordo da jangada-barco de Ulisses, o ator parece pilotar uma prancha logo ali na praia – sempre trazendo a distante Grécia para algo mais palatável a ouvidos contemporâneos.
Apesar do vocabulário antigo da tradução para o português adotada, as entonações que revestem cada personagem auxiliam na compreensão.
O diretor Octávio Camargo frisa que a escrita de Homero soava antiga para os próprios gregos que ouviam e repetiam o mito, motivo pelo qual escolheu essa linguagem e não algo mais próximo do português atual.
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Outra boa notícia é que poderemos conferir os demais cantos no espaço próprio do projeto Iliadahomero, situado no Alto da XV. Em breve, os festejos devem ser divulgados.
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FICHA TÉCNICA
Direção: Octavio Camargo;
Cenografia: Fernando Marés;
Cenotécnica: Sergio Richter e Anderson Quinsler;
Costura: Rose Matias;
Iluminação: Octavio Camargo e Lucan Vieira;
Projeção mapeada: Pablo Colbert e Alan Raffo;
Arte gráfica: Foca Cruz;
Documentação: Gilson Camargo.
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