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Um jeito de quebrar os relógios

porFrancisco Mallmann
23 de junho de 2015
em Teatro
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Heyk Pimenta tem um poema chamado Dois dias antes da conferência, do qual eu gostaria de destacar três trechos com o intuito de relacioná-los com Incêndio e pensar sobre algumas das temáticas que Ana Ferreira propõe (você pode lê-lo na íntegra clicando aqui). Ele diz:

“Todas as pessoas que conheço/querem/ou vão querer/ser/incendiárias,
Mesmo as que só querem/queimar o vizinho/têm como ninguém/um plano ideal/para o mundo”,
“a maioria quer/nisso/um jeito de quebrar/os relógios”.

As metáforas que existem sobre o fogo em Incêndio, em cartaz na Casa Hoffmann, são múltiplas, e se relacionam entre si contínua e incessantemente. Em alguns momentos, a impressão é de que não é necessário saber delimitar as relações e analogias feitas a partir do fogo, do incêndio – elas estão todas ali, construindo possibilidades que se apresentam desde dualidades até configurações mais complexas de sistematização. A multiplicidade surge também na recepção e no entendimento: as várias formas de se compreender o uso que se faz do elemento ‘fogo’ torna o significado algo capaz de ser constituído em circunstâncias e situações que soam paradoxais e aparentemente distantes – construções como “a beleza destruidora”, “o assustadoramente belo” são recorrentes maneiras de pôr em palavras sentimentos/sensações.

O recorte feito no poema de Heyk Pimenta apresenta alguns dos pontos que considero importantes nessa breve análise: a proximidade com o fator “humano”, a relação com o mundo, a ideia de “plano” e a relação com o tempo.

É interessante como, ainda que recorrendo a imagens e narrativas que soam míticas, Ana Ferreira apresenta uma proximidade e uma atualização constantes do material referencial. As temáticas são carnais, o corpo não se ausenta em nenhum momento, e, pelo contrário, se coloca sempre mais exposto e mais disponível – o que não quer dizer, no entanto, que seja totalmente compreendido e (re)significado. O fator “humano” não é só apresentado a partir dos elementos verbais, discursos com tons que vão desde o poético/existencial até os aparentemente banais, mas também com a concretude de um corpo que está próximo, desnudo e incendia(n)do.

Ana Ferreira usa seu espaço construindo-o como um lugar possível a também ser incendiado – cria ficções e ambientações em que experimenta metodologias que, aparentemente, não se repetem, mas se verticalizam e cada uma, à sua maneira, alimenta a chama.

Nesse sentido, a relação com o mundo (tanto o que é possível ser narrado como aquele que, de fato, é vivenciado) e com o “outro” parece ser um tema latente. Para além da possibilidade de encarar o fogo como vida/morte, parece haver uma certeza de que a transitoriedade humana é maior do que todas as relações de significado que alguém pode criar a fim de dar explicações. “O meu vazio é tão belo quanto o seu”, ela diz, talvez indicando que a ausência nunca será suficiente para ser outra coisa que não isso. O mundo parece, então, um incêndio dentro do qual cabem inúmeros outros – com intensidades, origens, consequências e efeitos singulares e muitos distintos entre si.

O trabalho é realizado mediante pactos com o público, contratos que são verbalizados e que podem ou não se efetivar. O espaço cênico se constrói com visíveis ativações de mecanismos/recursos feitas pela própria intérprete. A interação do público pode ocorrer, por exemplo, depois de um aviso sonoro que é várias vezes ativado. Ana Ferreira usa seu espaço construindo-o como um lugar possível a também ser incendiado – cria ficções e ambientações em que experimenta metodologias que, aparentemente, não se repetem, mas se verticalizam e cada uma, à sua maneira, alimenta a chama.

A noção de que o incêndio é agora, com os corpos que aqui estão, estabelece relações de cumplicidade e igualdade – de alguma maneira, todos dividem o mesmo espaço e a mesma fogueira.  A experiência compartilhada parece se comunicar diretamente com o fenômeno teatral. O que acontece quando pessoas se reúnem para ver e presenciar algo que, durante determinado tempo, é produzido por outra(s) pessoa(s)? De que maneira as coisas entendidas e produzidas ali se tornam visíveis, reais, coletivas, permanentes? São perguntas que parecem nortear a questão teatral. Um espaço em que se discute, antes mesmo de questões conceituais, as fronteiras entre o espaço e o tempo, e as formas de destruí-las. Temas, questões, assuntos que podem estar longe até se constituírem enquanto narrativas mas que, inevitavelmente, acabam atingindo a epiderme: às vezes incêndio, às vezes não.

Tags: Ana FerreiraCasa HoffmannCrítica TeatralCuritibaHeyk PimentaIncêndioTeatro

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