O que tem em comum um memorando da Secretaria de Educação de Rondônia, de autoria do Poder Executiva, indicando uma lista de 40 livros que deveriam ser recolhidos das escolas por serem inadequados e a interrupção do show da banda Janete Saiu para Jantar por parte da PM de Recife?
E o que pode haver de coincidência entre as pichações de palavras e frases misóginas atropelando um grafitti em homenagem à vereadora Marielle Franco na cidade de Ribeirão Preto e a suspensão da exposição Todxs xs Santxs – Renomeado – #eunaosoudespesa, obra do artista Órion lalli, por ordem da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro?
Todos os casos citados são exemplos de censura, aconteceram no Brasil nos últimos dois anos e fazem parte de uma extensa lista que pode e deve ser acompanhada no site do projeto “Observatório de Censura à Arte”, iniciativa jornalística voltada a mapear e denunciar casos de censura às expressões artísticas no país. A empreitada é do veículo de jornalismo cultural Nonada – Jornalismo Travessia, com sede em Porto Alegre, com apoio do Instituto Goethe e edição de Thaís Seganfredo e Rafael Gloria.
Ao analisar as postagens apuradas é possível chegar a algumas conclusões, entre elas a mais assustadora: os casos de censura, seja a artistas ou obras, não são casos isolados, acontecem em todas as regiões do país.
Para delimitar o conceito de censura que baliza a edição do projeto, os critérios utilizados foram os enumerados pela socióloga Maria Cristina Castilho Costa, professora da Escola de Comunicação e Arte (ECA) da USP e coordenadora do observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da mesma universidade. No site da iniciativa é possível entender ler todos os pontos que guiaram e guiam os critério adotados pela equipe.
Segundo os responsáveis, todos os casos têm sua veracidade checada antes da publicação. Cada publicação indica data, cidade, local e o censor em questão, além de um relato detalhado do acontecido e, geralmente, relato dos artistas censurados.
Ao analisar as postagens apuradas é possível chegar a algumas conclusões, entre elas a mais assustadora: os casos de censura, seja a artistas ou obras, não são casos isolados, acontecem em todas as regiões do país. Em comum, as obras censuradas têm como temáticas questões feministas, antirracistas, temas relacionados à comunidade LGBTQ+, críticas ao presidente Bolsonaro e abordagens de temas considerados religiosos.
A censura contra artistas e expressões artísticas avança de forma obscena e ruidosa, contando com a anuência e o entusiasmo do governo federal, além da certeza da impunidade. O trabalho desenvolvido pelo Observatório de Censura à Arte é imprescindível, e sinaliza a importância de iniciativas jornalísticas independentes no o Nonada. A luta em defesa da liberdade artística plena, e a defesa de todas as liberdades possíveis, imprescindíveis à dignidade e a sobrevivência humana, passa pelo apoio a trabalhos como o de Seganfredo e Gloria.
A investigação à censura à arte tem seu preço, e para isso é possível auxiliar o Nonada a continuar com seu trabalho através da campanha de financiamento do portal. Você também pode divulgar, colaborar e contribuir com a defesa da liberdade. A iniciativa é da dupla, o trabalho deve ser de todos nós.