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Por que sempre tão empoeirados?

porFrancisco Mallmann
9 de junho de 2015
em Teatro
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Patrice Chéreau é um diretor de teatro e cinema francês que, entre tantos motivos, tornou-se conhecido pela encenação de óperas, especialmente pela tetralogia O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner, e também por Don Giovanni, de Mozart e Wozzeck, de Alban Berg. Em uma entrevista, concedida ao jornalista brasileiro Fernando Eichenberg, Chéreau comenta a sua desastrosa estreia na ópera – em que foi vaiado por mais de 30 minutos e ameaçado de morte – dizendo que o público de ópera é conservador e que “a definição de um público conservador é: eles querem conservar o que existe” porque “gostam quando há um pouco de pó por cima”.  A recepção hostil, que aconteceu no Festival de Bayerouth, no entanto, depois de cinco anos, deu lugar ao reconhecimento: despediu-se sendo ovacionado por mais de uma hora, ainda que, nessa altura, já também se dizia, ele próprio, “empoeirado”.

A ópera se consolidou historicamente como uma das manifestações artísticas mais elitistas (ainda que existam gêneros populares, como a Opera Buffa). Durante muito tempo, obviamente, houve esforços para que as relações classistas fossem perpetuadas, isso porque, para além da técnica e dos modos de produção, a apreciação da ópera é sempre “performática” e envolve todo o exercício existente no que se convencionou chamar “status”. Ver e ser visto, antes mesmo do início de qualquer espetáculo, foi sempre tão ou igualmente atraente do que qualquer movimento no palco – ou seja, demorou muito para que alguém decidisse “tirar o pó” da ópera.

A questão elitista e classista em um país como o nosso parece tomar corpo com camadas inexistentes ou bem menos expressivas em geografias nórdicas, por exemplo. Aqui, as coisas parecem ainda mais embaralhadas. A ópera não se apresenta como o formato mais distante, porque a maioria dos outros também é – sem contar que o “ar europeu” que acompanha as óperas, desde que chegou, causa, até hoje,  frisson e é visto como algo a ser conquistado. Nestas terras, entrar em uma livraria já tem proporções semelhantes ao camarote: um espaço distante, restrito e inalcançável.

Embora não seja fácil delimitar os motivos e as causas do nosso contexto, todos, de alguma maneira, sabem dar explicações – porque as coisas são complexas na mesma medida em que podem ser simples. É possível, rapidamente, eleger, culpar e responsabilizar vários agentes e várias circunstâncias. Em uma preguiçosa análise, a situação parece se dividir de maneira que é possível identificar uma trajetória que tem como origem e destino os que se esforçam para que a arte “erudita” atinja um público que dificilmente teria acesso sem algumas iniciativas e o público que poderia acessá-la de modo “diverso e com profundidade”, mas se nega. As generalizações e o senso comum são contraproducentes, mas, ainda assim, servem como indício. Sabe-se que o teatro luta contra outros meios mais atraentes. Sabe-se que o cinema nacional luta contra Hollywood. Sabe-se que o músico local luta contra os sucessos da novela. Sabe-se que há lutas com as mais variadas configurações. E sabe-se que, nesse quadro, há o poder de escolha, há a instrução e sabe-se, também, que há condições bem mais difíceis de alterar.

Nestas terras, entrar em uma livraria já tem proporções semelhantes ao camarote: um espaço distante, restrito e inalcançável.

Em Curitiba há um projeto chamado Opera Orchestra Curytiba que, com o intuito de transformar a capital paranaense em a “capital da ópera no Brasil”, priorizando a “educação da formação de plateia” e a “acessibilidade, da arte e da cultura de óperas, para toda a sociedade”, nos apresenta um interessante caso para se pensar sobre essas questões.

A estreia aconteceu na sexta-feira, 05 de maio, na Ópera de Arame, com a apresentação de L’occasione fa il ladro de Gioachino Rossini, com direção de Rogério Mendes Júnior (diretor geral), Alessandro Sangiorgi (diretor artístico e regente titular) e Roberto Innocente (diretor cênico).

No dia 03 de junho o ensaio da ópera L'Ocassione fa il Ladro recebeu crianças de escolas públicas e projetos sociais, idosos e pessoas com deficiência. Foto: Cido Marques.
No dia 03 de junho o ensaio da ópera L’Ocassione fa il Ladro recebeu crianças de escolas públicas e projetos sociais, idosos e pessoas com deficiência. Foto: Cido Marques.

A companhia (criada a partir de testes, algo raro na cidade) apresenta a possibilidade de tornar a ópera em Curitiba, “como na maioria das cidades do mundo, acessível a todos” e também se configura como um “projeto que abre novas oportunidades para músicos, cantores e para todos os profissionais das artes cênicas” – além de supostamente “atender à demanda de uma grande parte do público curitibano, que tem mostrado grande interesse para a ópera mas que tem tido poucas oportunidades de assistir montagens completas na cidade”.

A acessibilidade reside em dois principais lugares: na quarta-feira, 3 de maio, “1,6 mil alunos da rede municipal de ensino de Curitiba, jovens atendidos nos Portais do Futuro, idosos, pessoas com deficiência e crianças atendidas pela Fundação de Ação Social” assistiram a um ensaio aberto e, no dia 05, os ingressos custavam R$30 e R$15 (mais a taxa de R$10 da empresa DiskIngresso) – o espaço é o da Ópera de Arame, cartão postal que, há anos, recebe pouquíssimos eventos culturais.

É interessante pensar que a principal motivação do projeto, talvez, não se efetive: a qual acessibilidade nos referimos quando abrimos as portas de um ensaio geral para determinadas pessoas e as portas da “estreia” para outro grupo? A diferença principal, é claro, é que uns pagam e outros não. Isso não é exatamente um problema. Há que se pagar pelo trabalho de tantos profissionais. Mas não se pode dizer se tratar de um processo “totalmente” acessível. É, ainda, extremamente separatista. A dificuldade de criação de outras metodologias não significa que sejam inexistentes.

É louvável a intenção, de fato. Aproximar, instruir e formar são atitudes necessárias e ausentes, além, evidentemente, da importância existente em profissionalizar e remunerar o artista em um projeto permanente. Um grandioso espetáculo com evidente rigor técnico e com um nível de profissionalismo se faz com o envolvimento de várias pessoas, especialmente quando almeja permanência. No entanto, há que se manter desconfiado com as nuances da bondade, que, infelizmente, ainda surge com resquícios de colonização: os camarotes não deixaram de existir e nos provam que, diante de um palco frontal, ainda há quem prefira assistir de lado, com a pior visão possível, por alguma razão…

Tags: Crítica TeatralCuritibade Richard WagnerFestival de BayerouthO Anel dos NibelungosóperaÓpera de ArameOpera Orchestra CurytibaPatrice ChéreauTeatro

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