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Sobre prêmios e premiações

porBruno Zambelli
22 de março de 2018
em Teatro
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É noite bela, de gala. Noite enraizada na alma, daquelas em que, enfim, se esquece tudo o que há de ruim, tudo aquilo que maltrata. As estrelas presentes são astros que emudecem a fala. A coisa tá preta, sim, mas hoje é preciso um tiquinho de calma. Poucas são as noites de festa no país da tristeza. Poucos são os motivos para a alegria na nação do desespero. A fatídica prova dos nove, de janeiro a janeiro, é a nossa cara de tacho diante do espelho, e mesmo assim esperamos a chegada da pândega que legitima a nossa escassa esperança.

Sabemos que só isso não basta, mas insistimos. Rimos e choramos, agradecemos sem saber ao certo a quem. Mesmo que custe caro afrontar a nossa frágil sanidade diante de toda a dificuldade. Mesmo que não haja sobreviventes depois da festa, lembremos: é um dia sacro, de evento raro. Vestiremos ternos ou fraques e tiraremos do armário o vestido longo e a paciência eterna. É dia de troféu, noite de festa. Chegou a hora do rega bofe, do esperado e fino rendez-vous para uns, e da tal boca livre para tantos outros. Mesmo que a dentuça abocanhe a nossa própria sorte e os nossos sonhos, mesmo que catalogue o nosso delírio. É, a grosso modo, uma noite de circo. Apesar de o pão, tão difícil, encontrar-se amanhecido nos lábios do tédio ou nas mãos do descaso travestido de reconhecimento. “And the prize goes to… who?”. Para essa noite bela, de gala.

Sim, as premiações são necessárias e, acima de tudo, divertidas. Confie-se ou não no juri, goste-se ou não do resultado, é preciso admitir que esses pedaços de metal fundido simbolizam o que deve ou não ser visto, ouvido, discutido. É o aval dos especialistas.

Sim, as premiações são necessárias e, acima de tudo, divertidas. Confie-se ou não no juri, goste-se ou não do resultado, é preciso admitir que esses pedaços de metal fundido simbolizam o que deve ou não ser visto, ouvido, discutido. É o aval dos especialistas. É o certificado de garantia para o público. O ISO 9000 das artes tem como útero um envelope recheado de nomes.

Os abençoados com o prêmio dizem ser impossível traduzir em palavras a sensação de empunhar um desses diante da platéia, logo após ouvir seu nome ao microfone e encarar a tempestade de aplausos em direção ao palco. Honraria rara, satisfação garantida. Apenas eles, os melhores, levarão pra casa aquele pedaço de felicidade, um atestado físico de sua capacidade profissional. E o colocarão na estante, e o lustrarão durante dias com a retina encantada. E comentarão com todos os amigos, mesmo que com desdém, sobre o prêmio recebido. E agradecerão a todos os santos, mesmo que sem fé, pela graça alcançada. Ao fim, quase que de repente, o troço vira apenas mais uma lembrança empoeirada na estante, e uma vontade de reprise que nunca cessa.

E os benfeitores? Os patrocinadores, realizadores, apoiadores. Os incansáveis amantes das artes que buscam “fomentar o desenvolvido cultural da nação”. Aqueles bons burgueses que dedicam tempo e dinheiro, seus próprios deuses, à causa e em troca de absolutamente nada. A não ser, é claro: “fomentar o desenvolvido cultural da nação”. É evidente que sem eles a festa não estaria completa. Aliás, sem os tais, a coisa simplesmente não aconteceria. São esses os grandes nomes da noite, oras. Mas não existem motivos para competições ou comparações, todos são gigantes em noites como essa. Noites de gala, de festa.

E ocasiões de tamanha grandeza fazem necessárias algumas exigências. Afinal, não se estragam noites perfeitas. Criam-se, em nome da boa convivência, pactos pontuais. Tréguas estratégicas. Por conta disso, e é absolutamente compreensível, o artista engajado inicia o seu discurso inflamado agradecendo, primeiramente,a petrolífera. O escritor esquecido chora compulsivamente diante do reconhecimento que recebe da revista que sempre o ignorou solenemente. Mas tanto faz, c’est belle nuit.

Mas pera lá, que a coisa não é assim tão radical. Não se propõe por aqui um boicote a qualquer tipo de premiação. Tão pouco somos anarquistas dispostos a seguir os passos de Rudolph Schnaubelt e resolver com pólvora a questão. Então, acusarão alguns, é criação de caso de quem possui uma prateleira vazia no armário! Nada. Somos como todos os outros: achamos graça e gostamos do troço, mas São Oswaldo de Sousa Andrade nos legou o gosto pela troça, além da evidente adoração pelo trocadilho.

Acreditamos nos prêmios, gostamos de toda a pompa da coisa e parabenizamos a todos: os artistas nomeados, os indicados e até mesmo os barrados na frente do teatro. Parabenizamos os vencedores, os perdedores e os desafetos trancafiados no breu do esquecimento. Amanhã a coisa muda de figura. Será novamente preciso lutar e tocar o bonde. Sabemos que carecemos de muito, e que continuaremos independente do resultado do monte de prêmios que surgem todo começo de ano. Dia após dia seguiremos. E engavetaremos até o próximo ano muito mais do que a roupa comprada exclusivamente para esse tipo de evento. É triste admitir, mas sabemos. Mas nada disso realmente importa. Afinal, hoje a noite é rara, de gala. É dia de festa!

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Tags: Artes CênicasEnsaiopremiaçõesprêmiosprêmios teatraisTeatro

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