As palavras e as imagens são tantas hoje que dificilmente ficamos 15 minutos presos a alguma coisa. Um quarto de hora de fama ficou mais difícil.
Pensando nisso e em toda a sobrecarga de caras e bocas com que a rede nos brinda todos os dias, a atriz Ana Ferreira realizou uma performance on-line dia 25 de outubro em que parte dessas questões. A ideia de Streaming era, como o nome diz, que a audiência fosse possível apenas no horário anunciado, sem que o vídeo ficasse disponível depois. Ou seja, [highlight color=”yellow”]indo contra todos os esforços de marketing virtual costumeiros[/highlight], em que se busca justamente amplificar a exposição de eventos.
Pode-se dizer que Streaming provoca mais na sua essência.
O projeto era mais impactante que o oferecido efetivamente. Pode-se dizer que Streaming provoca mais na sua essência, mesclando um texto que bebe na poesia concreta à imagem da atriz que percorre a cidade dentro de um conversível, filmando a si mesma com a ajuda de um bastão.
O texto corre de forma inclinada. A “guerra entre impérios” sugerida se anuncia no texto provocativamente, aludindo a seres-estrela que se atacam.
Poesia concreta sobre o diálogo contemporâneo. Falta de consistência dos relacionamentos. Os erros de grafia propositais são jogos de linguagem em que a artista se esmera.
Como fazer arte: isso não é um rolezinho, uma ostentação. É vontade de se expressar, impactar, fazer pensar.
Enfim, palavras, palavras, palavras. E a sede por autoimagem.
Interessante que, em 1968, Saramago tenha anunciado um diagnóstico em sua crônica “As palavras”.
“As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes.”