Os Kids in the Hall estão de volta. E talvez neste momento você esteja pensando: quem são eles? Em uma curta explicação, são uma trupe de comediantes canadenses que fizeram muito sucesso nos anos 90 e seguem até hoje influenciando muitos dos shows humorísticos contemporâneos.
Sabe aqueles esquetes absurdamente constrangedores entre casais no Porta dos Fundos? Tem um dedo do programa Kids in the Hall aí. Isto porque há algo de bastante peculiar no humor trazido pelos KITH.
Eles exploram com muita originalidade o formato curto da cena de esquete, que se encerra em poucos minutos e precisa resolver uma situação engraçada em um roteiro curto.
O grupo surgiu no teatro em 1984, mas migrou para a TV em 1989. O programa homônimo foi exibido até 1995 pela CBC, no Canadá, e pela CBS, HBO e Comedy Central nos Estados Unidos.
A novidade agora é que, 27 anos depois do encerramento da série, a Amazon Prime Video produziu uma nova temporada do show, para o deleite dos fãs (grupo no qual me incluo). Além disso, a plataforma de streaming disponibiliza as cinco primeiras temporadas para quem quiser conferir.
Quer uma forcinha para ir atrás? Então acompanhe aqui quatro razões para você fechar este texto e ir assistir a Kids in the Hall.
1. Eles criaram uma linguagem específica de humor
Por mais que os esquetes sejam de cenas isoladas, uma das sacadas do programa foi construir personagens que se repetissem.
Com isto, Kids in the Hall foi criando uma cartela de personagens e uma espécie de linguagem reconhecível pelos fãs. E, numa tentativa de explicar essa linguagem, eu diria assim: trata-se de um humor que transita entre a crítica cultural e o mais puro besteirol.
Ou seja, muitos dos quadros apresentados em KITH eram severos ataques a questões presentes não apenas na vida dos canadenses, mas também dos americanos, seus “rivais” culturais.
Eram muitos os personagens entediados, como donas de casa sem muito assunto, crianças negligenciadas e sujeitos solitários que criaram uma rotina um tanto ridícula para viver. Por outro lado, algumas cenas eram o puro suco do surrealismo, com esquetes que fariam Luis Buñuel morrer de inveja.
2. Eles fazem humor gay sem serem homofóbicos
A trupe canadense é composta por cinco comediantes, sendo que apenas um deles (Scott Thompson) é assumidamente gay. Não obstante, eles criaram, interpretaram personagens e bolaram roteiros sobre a comunidade LGBTQIA+ desde o início do programa. E aí viria a desconfiança: seria um programa homofóbico? Muito ao contrário.
Os Kids in the Hall foram criando uma linguagem reconhecível pelos fãs: trata-se de um humor que transita entre a crítica cultural e o mais puro besteirol.
Como alguns críticos já apontaram, a verdade é que os personagens realmente exagerados eram, justamente, aqueles ostensivamente heterossexuais – como Gordon (Bruce McCullouch), o marido reclamão de Fran (vivida por Thompson), uma dona de casa que sempre aparece sentada na cozinha em conversas com o espectador.
Aliás, dentre os personagens mais célebres de KITH está Buddy Cole (personagem de Scott Thompson), que se tornou uma espécie de ícone na comunidade gay.
Na nova temporada, Buddy volta velho e saudosista e tem uma cena no mínimo inusitada: ele participa da cerimônia de despedida do último glory hole de Toronto, com direito a presença da Rainha da Inglaterra.
3. O humor deles envelheceu – ainda bem
Quase 30 anos separam as primeiras temporadas de Kids in the Hall da nova, de 2022. Ou seja, os comediantes, que estavam na casa dos 30 anos, agora estão com 60. A parte mais legal da nova temporada é ver que eles abraçaram isto dentro do seu humor.
Em vários quadros, eles tiram sarro com sua idade e suas formas físicas. Em um dos esquetes mais engraçados, um clube de striptease traz só dançarinos com mais de 60.
Um deles não consegue andar sem o auxílio da esposa, o outro parece claramente descompensado, o terceiro está sentado numa poltrona – e mesmo assim, as mulheres parecem enlouquecidas por eles.
Da mesma forma, há piadas que riem do fato de que eles são vintage, e que talvez sejam meio fracassados, já que ficaram tanto tempo fora do ar.
4. Eles pegam pesado
https://www.youtube.com/watch?v=0yS7G05e0kI
Um dos motivos de Kids in the Hall ser um programa cultuado por tantos comediantes é que eles fazem uma espécie de humor com múltiplas camadas. Isto quer dizer que, por vezes, o esquete sugere ser apenas nonsense, mas há várias facetas por trás de uma piada que, a princípio, parece quase infantil.
Por outro lado, há os quadros em que os comediantes voam direto na jugular do público. Preste atenção, por exemplo, em um esquete que junta dois casais gays numa casa, e um deles resolve se relacionar com uma mulher. É tão absurdamente ofensivo que é, por fim, engraçado.
Eles também se arriscam em um humor que fica na corda bamba do famigerado politicamente correto. Em um deles, um burocrata é demitido por ser acusado de apropriação cultural por conta de um adereço: um sapato de palhaço. Parece um risco alto para humoristas que, ao longo de suas carreiras, sempre se posicionaram a favor das minorias. Ainda assim, eles seguem ousando para ver até onde podem ir.
Entusiasmou? Então dê uma chance a si mesmo e confira estes velhos punks do humor agora mesmo.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.