Os anos 1990 foram, sem dúvida, uma década ímpar na televisão aberta do Brasil. Claro, nessa época vivemos o auge do “tudo pela audiência”, dos corpos nus, das personalidades bizarras que se consagraram no cenário nacional e das matérias de forte apelo emocional. Também foi a década das grandes contratações, dos salários milionários, da competição em seu estado mais feroz. Talvez esse tenha sido o período com mais verve no sentido de movimentação do mercado.
Nessa década, nós testemunhamos uma tradicional TV Record completamente sucateada se transformar em uma das redes nacionais de maior relevância do país. Também aconteceu o contrário, com a TV Manchete: afundada em dívidas e má administração, nem seu prestígio de outrora foi suficiente para impedir sua falência e dar lugar à RedeTV!. Mas um caso em particular chamou bastante atenção: quando a Rede OM, uma emissora de televisão do Paraná traçou um audacioso plano, o de tornar-se uma nova rede nacional.
A realidade agora é essa. Hoje, o formato de superstation (aquele em que uma emissora tem apenas uma geradora e o resto dos canais são apenas retransmissoras que não produzem conteúdo local) se vê sufocado pelas igrejas neopentecostais nessa fase.
Quando a Rede OM resolveu embarcar nessa, o ano era 1991. Era um ano forte em programação, mas de grandes incertezas. No ano anterior, foram obrigados a abandonar a programação da TV Bandeirantes que havia comprado uma estação em Curitiba, forçando a família Martinez, sua proprietária, a migrar para a recém-formada Rede Record, comprada por Edir Macedo há pouquíssimo tempo. Mesmo com programas relevantes no estado, como o Cadeia, de Luiz Carlos Alborghetti, e eventos de grande destaque como o Campeonato Brasileiro de Futebol, ali se viu uma oportunidade, naquilo que foi uma ideia excelente…a curto prazo.
A decisão de se tornar rede nacional foi repleta de acertos, claro. Mas houveram alguns escândalos (dentre eles, aquele que motivou a mudança de Rede OM para CNT) com sua principal afiliada na época, a TV Gazeta de São Paulo. Percebendo que poderia fazer o mesmo caminho de sua precursora e fazer sua própria história no cenário nacional, a CNT começou os anos 2000 em maus lençóis, dos quais não conseguiu sair até hoje. A relevância de outrora nunca mais voltou, muito pelo contrário, hoje aluga 22 horas de sua programação para igrejas neopentecostais em busca da sobrevivência. Apesar disso, é uma das 14 redes de televisão brasileiras mais importantes do país.
Enquanto isso, a TV Gazeta passou os anos 2000 projetando o crescimento a nível nacional, mas nem sua excelente programação foi suficiente para atrair emissoras. A solução então, que parecia kamikaze, parece ter salvo a Gazeta de um colapso: regionalização. Com uma programação 100% pautada para São Paulo e se autointitulando “a mais paulista das emissoras”, hoje consegue ter mais audiência que a Band e a RedeTV! em alguns horários, as vezes, a vitória vem até na média-dia de audiência. E não é que deu certo?
Talvez porque hoje estamos vivendo aquilo que alguns teóricos da comunicação já prospectavam: a televisão aberta como conhecemos vai encontrar seu lugar ao sol no regional. O fenômeno já é íntimo dos norte-americanos, já que lá NBC, ABC, CBS, Fox, The CW, PBS e as hispânicas Univision, Estrella TV, Azteca e Telemundo já se consolidaram de uma maneira que, caso anunciassem uma nova rede de televisão aberta por lá, muito provavelmente o impacto seria mais de bocejo em detrimento da empolgação. Ainda mais hoje em dia, que as grandes receitas são disputadas a tapa com a internet. Essa sim, em crescimento meteórico.
A realidade agora é essa. Hoje, o formato de superstation (aquele em que uma emissora tem apenas uma geradora e o resto dos canais são apenas retransmissoras que não produzem conteúdo local) se vê sufocado pelas igrejas neopentecostais nessa fase. Nem tudo está perdido, claro. Mas hoje em dia mais vale um conteúdo nacional traduzido para sua região com um viés comunitário do que uma voz forte que replica o mesmo conteúdo em todas as praças. Sinal dos tempos.