Embora American Horror Story nunca tenha sido uma série feita para provocar medo, mas choque, alguns fãs reclamavam da falta de pulos no sofá ou ao menos de um frio na espinha. E ainda que AHS pareça querer dizer mais do que apenas histórias chocantes, como podemos ler neste texto de Rodolfo Stancki -, fãs e crítica já não esperavam muita coisa depois das três últimas fracas temporadas. Com um formato que começa a cansar, Ryan Murphy e Brad Falchuk, criadores da série, entenderam que não precisavam, de fato, reformular toda a série, mas apenas contar a história de uma maneira diferente. Por isso, American Horror Story: Roanake, a sexta temporada da antologia, tenta provocar medo, sem pretensões maiores até o momento.
Se perdemos alguns interessantes plots dramáticos vistos nos últimos últimos anos (e que alcançou seu ápice na metafórica Freakshow), ganhamos em um enredo cabuloso. American Horror Story: Roanoke traz a história do casal Shelby (Sarah Paulson) e Matt (Cuba Gooding Jr), contada como um falso documentário chamado My Roanoke Nightmare, e mistura elementos da lenda de Roanoke – que havia sido brevemente contada durante a primeira temporada (Murder House). As ligações com o primeiro ano, aliás, são bastante evidentes, o que mostra um esforço da produção em se aproximar mais da proposta original da série. Mas o que torna a nova temporada interessante é sua história de fundo, a lenda de Roanoke, uma história aparentemente real e bastante conhecida pelos norte-americanos. Roanoke é uma colônia fundada por britânicos no estado norte-americano da Carolina do Norte. Três anos após sua fundação, uma expedição inglesa descobriu que os 116 habitantes do local haviam simplesmente desaparecido, sem rastros de conflito – apenas a palavra “Croatoan” cravada em uma árvore. O motivo para o sumiço destas pessoas até hoje não foi solucionado por historiadores, levantando diversas teorias relacionadas ao sobrenatural.
O falso documentário causa estranheza no início, já que além de oferecer uma quebra na narrativa, também exige mais do espectador, que precisa acreditar que os depoimentos são reais ao mesmo tempo em que também precisa conectar-se com a dramatização dos acontecimentos. Outro risco é, por não poder repetir os atores do documentário dentro da verdadeira ação da história, alguns bons atores serem pouco aproveitados, como a ótima Lily Rabe. Entretanto, o recurso pode ampliar a história e mudar os rumos da narrativa de uma hora para outra, algo que Murphy adora fazer, mesmo que sem muita eficiência.
Quando se trata de Ryan Murphy, podemos chegar ao final da temporada achando a história a coisa mais genial do mundo ou sairmos decepcionados mais uma vez.
Mas a grande novidade do ano, como já citado, é que Murphy não quer filosofar, apenas contar uma história de horror americana. Até o momento, os roteiristas conseguiram, de fato, criar momentos bastante assustadores, como uma chuva de dentes humanos, uma fita cassete com uma gravação bastante perturbadora, uma Kathy Bates bizarra, sessões espíritas estranhas, um homem andando com uma cabeça de porco, sacrifício humano e por aí vai.
O terceiro episódio, por exemplo, é dirigido por Jennifer Lynch, filha de David Lynch (Twin Peaks) e traz algumas cenas horríveis como dois fantasmas se masturbando enquanto Cuba Gooding Jr. transa de forma hipnótica com uma Lady Gaga bruxa da floresta. Nada disso soa original, remetendo a filmes como Horror em Amityville, Viagem Maldita, A Bruxa de Blair e tantos outros, mas aparece de forma muito cuidadosa, tanto por uma fotografia sufocante quanto por uma trilha sonora envolvente desde os créditos iniciais. Esta temporada, aliás, perdeu sua já clássica abertura, tudo para que o documentário pareça o mais real possível.
Mas é claro que a série já começa a mostrar problemas. Embora o que tenha feito sucesso esteja lá e funcionando melhor do que nunca, tudo o que trouxe problemas também aparece. As cenas são rápidas demais, personagens entram e saem de cena sem muita utilidade, histórias paralelas começam a aparecer e a lenda original de Roanake ganha respostas não muito originais. Mas talvez a coisa mais irritante da temporada seja a burrice dos protagonistas, ainda que isso seja algo recorrente em histórias clássicas de terror, especialmente envolvendo casas mal assombradas. Mesmo assim, fica difícil engolir a insistência do casal em continuar naquela mansão, mesmo quando o roteiro inclui, de forma bem pouco inspirada, um motivo para que eles não vão embora. O telespectador de AHS sempre assina um contrato mental em que promete não se importar com as inconsistências no roteiro, mas as motivações dos personagens chegam a incomodar de verdade.
De qualquer forma, American Horror Story ganha fôlego para mais alguns anos no ar. Desde a estratégia do FX em não divulgar o tema antes da estreia até apostar em uma narrativa diferente dos cinco primeiros anos, a série conseguiu, aparentemente, trazer novos fãs e resgatar alguns antigos que estavam desacreditados. Mas quando se trata de Ryan Murphy, podemos chegar ao final da temporada achando a história a coisa mais genial do mundo ou sairmos decepcionados mais uma vez. Ainda assim, nós sempre vamos até o fim.