No dia 16 de maio, o SBT estreou a sua mais nova novela. As Aventuras de Poliana é mais uma das aventuras de Íris Abravanel, a “primeira-dama” do SBT, pelo gênero. O trocadilho infame se torna ainda mais pertinente quando levamos em consideração que, pela primeira vez em anos, o SBT está optando por adaptar um clássico da literatura ao invés de alguma novela que fez sucesso nos mercados latinos. Aqui, o desafio é criar uma estrutura de folhetim, o que se torna uma tarefa árdua levando em consideração sua previsão de 700 capítulos.
Na versão televisiva, Poliana (Sophia Valverde) é filha de artistas mambembes e até recebe a boneca que tanto queria (no livro, Poliana queria uma boneca e ganha uma muleta), mas ela não tinha uma das pernas. É aí que se desencadeia o “jogo do contente”, em que a menina deve demonstrar otimismo até mesmo diante das piores situações da vida. Algo que é posto à prova quando a personagem-título perde os dois pais e é obrigada a viver com a amargurada tia Luísa (Milena Toscano) em São Paulo.
Poliana também conquista alguns pontos quando se trata de representatividade. Seu elenco possui muito mais personagens negros (e com destaque) do que Segundo Sol.
Concomitantemente, a menina conhece João (Igor Jansen), um garoto humilde de quem ficou amiga em sua passagem pelo nordeste brasileiro e que foge de casa para se aventurar na metrópole paulista ao mesmo tempo que a garota. A história, por sinal, lembra muito Cândido, de Voltaire (que serviu de inspiração para outra novela, Êta Mundo Bom!). Os encontros e desencontros dos dois otimistas parecem ser um dos grandes achados da novela.
Em tempos de Unbreakable Kimmy Schmidt (Netflix) e The Good Place (NBC), que são sucessos de audiência e crítica, As Aventuras de Poliana acerta ao apostar nesse tipo de narrativa positiva. Arrisco dizer necessária no caos atual que o mundo se encontra. Entretanto, apesar da boa intenção de seu argumento, algumas coisas não podem passar impunes.
Analisando toda sua história, o SBT tem uma relação muito singular com sua própria teledramaturgia. Com mais de 50 produções próprias, apenas 9 não foram adaptações de algum folhetim latino, livro ou novela de outra emissora. Celeiro de grandes talentos (Ana Paula Arósio, Caio Blat, Mariana Ximenes, Fernanda Souza, Débora Falabella, Bruno Gagliasso, Giovanna Grigio e tantos outros estrearam na emissora), parece que a família Abravanel sabe muito bem o que está fazendo, certo?
Não exatamente. Com um custo estimado em R$ 280 mil por capítulo, seus cenários, figurinos e fotografia estão longe de fazer frente às suas concorrentes diretas, Globo e Record. Até mesmo a “bússola moral” e parceira de anos Televisa já se atentou e se atualizou nesse aspecto (que é percebido em obras como Tres Veces Ana, Papá a Toda Madre e Yago, sem previsão de estreia no Brasil), o que faz com que As Aventuras de Poliana pareça mais uma novela da Globo, só que realizada entre o final da década passada e o início desta.
O elenco também guarda boas surpresas. Bancar o retorno de atores tão talentosos como Dalton Vigh (Sr. Pedleton), Myrian Rios (Ruth), Clarisse Abujamra (Glória) e Mylla Christie (Verônica), que há anos não encontravam boas oportunidades em televisão, é louvável. Já a Poliana de Sophia Valverde, mesmo sendo um tanto “forçada” em algumas cenas, consegue cativar o telespectador. Diferentemente de Bela Fernandes (Filipa) – a vilãzinha fútil está muitos tons acima. A mais incauta das crianças se cansaria fácil da menina.
As Aventuras de Poliana também conquista alguns pontos quando se trata de representatividade. Seu elenco possui muito mais personagens negros (e com destaque) do que Segundo Sol. Quanto ao elenco, de pontos negativos, é nítido que Larissa Manoela já encontrou melhores oportunidades na TV do patrão. E a escolha de Milena Toscano como a tia amargurada? Deus a abençoe, ela está tentando…
Por fim, o texto de As Aventuras de Poliana resvala naquele que é um dos pontos mais fracos que uma obra para crianças pode ter: subestimar a inteligência das crianças. A novela seria uma excelente oportunidade para deixar a dicotomia e a caricatura de lado. Todavia, é um mérito do SBT ser a única emissora de TV aberta a investir no público infantil, o que se reflete na audiência (que no seu primeiro capítulo registrou 17 pontos de pico) e em faturamento. Mas mesmo com um público tão fiel, talvez seja o momento certo de rever algumas atitudes diante de tantos capítulos que virão pela frente.