2021 foi um bom ano para séries e minisséries. As plataformas de streaming capricharam em estreias de novas atrações e temporadas novas de séries premiadas. As opções são vastas e, por isso, as listas de fim de ano são sempre bem-vindas para quem está querendo filtrar o cardápio. Neste texto, você confere as indicações da Escotilha e de convidados muito especiais.
Rodolfo Stancki
Jornalista, editor de Escotilha
- Ted Lasso, segunda temporada (Apple TV)
Depois de arrebatar sete Emmys com a primeira temporada, o seriado sobre o treinador menos experiente (e mais otimista) da história do futebol britânico sentou no divã em seu segundo ano. Protagonizado por Jason Sudeikis, Ted Lasso desenvolveu personagens, quebrou expectativas narrativas e mergulhou em um importante debate sobre saúde mental. Fez rir e chorar. Tornou-se o programa de maior popularidade da Apple+, que em 2021 também entregou ao público as excelentes Schimgadoon!, The Morning Show e Servant.
- Mare of Easttown (HBO)
A policial Mare Sheehan (Kate Winslet) vê sua vida pessoal desabar enquanto investiga um caso de assassinato que pode estar vinculado a uma série de desaparecimentos que ocorreram em Easttown, a cidade em que vive. Narrativa policial íntima, tensa e nada romântica, Mare of Easttown é um excelente estudo de personagem. Escrita por Brad Ingelsby, a trama está muito mais interessada em lidar com os problemas – bastante mundanos e relacionáveis – da heroína. Lançada pela HBO.
- Missa da Meia-Noite (Netflix)
Projeto pessoal do diretor Mike Flanagan, que passou anos desenvolvendo a ideia, Missa da Meia-Noite engana o espectador desavisado. Isso porque começa como uma drama sobre uma pequena comunidade de uma ilha, que não consegue deixar o passado para trás. A chegada de um jovem padre (Hamish Linklater) balança a rotina do lugar, trazendo um perigoso segredo. Estruturada como uma narrativa de horror, a minissérie da Netflix funciona como um tratado existencialista sobre vida, luto e memória.
Rodrigo de Lorenzi
Jornalista. Mantém um canal de Tik Tok sobre livros, filmes e séries e o canal de YouTube Vino Série
- Mare of Easttown (HBO)
A minissérie da HBO não inovou no enredo principal – uma detetive, numa cidadezinha, decide investigar o assassinato de um cidadão enquanto tenta resolver seus problemas pessoais – mas o que Mare of Easttown fez foi muito mais do que qualquer outra série de investigação nos últimos anos. Ao unir um drama familiar com personagens muito bem construídos, a minissérie conseguiu colocar o público no lugar daquelas pessoas para que nós acompanhássemos seus dramas e nos importássemos com cada um dos moradores. A história do assassinato é interessante, mas fica em segundo plano quando olhamos para o todo. As consequências do crime naquela comunidade são o que importa. Nada melhor do que ver uma obra com um enredo simples, mas escrita de forma primorosa. E Kate Winslet está deslumbrante. Só adjetivos para essa grande minissérie.
- The White Lotus (HBO)
Alguns torceram o nariz para The White Lotus, mas eu estou na turma dos que adoraram ver uma sátira despretensiosa sobre gente rica sendo escrota. A série antológica da HBO acompanha diversos hóspedes americanos num resort no Havaí. Conforme os dias passam, vemos a relação entre esses hóspedes e os funcionários do hotel em um jogo de classes que expõe a hipocrisia americana. A força da série, para mim, está em quebrar algumas expectativas. A jovem progressista não hesita em deixar que levem a culpa por algo que ela fez, por exemplo. Mas o mais divertido é nos identificarmos, em maior ou menor grau, com algumas atitudes daquelas pessoas, fazendo com que o nosso ridículo seja muito bem representado por meio de indivíduos egoístas, mesquinhos ou simplesmente insatisfeitos com a vida que levam.
- Dopesick (Star+)
Ainda meio tímida e sem muito burburinho, Dopesick chega para figurar entre as melhores do ano. A minisssérie, baseada em fatos reais, mostra como uma empresa desencadeou a pior epidemia de drogas da história americana ao fazer milhares de americanos se viciarem em oxicodona, um opiáceo usado para dores fortes. O resultado foi a morte de meio milhão de pessoa por overdose nos Estados Unidos desde 1999. Na história acompanhamos detetives tentando desmontar a empresa farmacêutica responsável pelo medicamento, enquanto vemos como o comprimido destruiu a vida de uma comunidade nos EUA até se alastrar por todo o país. A série tem um ritmo lento e com várias linhas temporais, mas aos poucos vamos entrando num mundo assustador e corrupto que tem impactos negativos até hoje.
Henrique Haddefinir
Crítico dos sites Omelete e Série Maníacos.
- Sex Education, terceira temporada (Netflix)
A série britânica sobre o despertar sexual seguiu para sua terceira temporada nos oferecendo despertares de todas as espécies. Foi um ano intenso, cheio de questões políticas e embate com o conservadorismo, mas também cheio de novas abordagens inesquecíveis do sexo e suas variáveis, do jeito que a gente gosta. Entre os melhores momentos estão o musical de protesto realizado pelos alunos do colégio e o desenvolvimento de Adam, que entre sua relação com Eric e sua relação consigo mesmo, foi se reconfigurando de uma maneira lindíssima. Foi a temporada dele.
- WandaVision (Disney+)
Talvez uma das maiores unanimidades do ano, WandaVision provou que o legado da Marvel dentro da indústria é muito maior do que imaginávamos. A curta e planejadíssima temporada da minissérie foi inteligente, sagaz, emocional e divertida como há muito tempo não víamos por ai. Como escopo de toda a celebração da cultura pop, presente em todos os episódios, estavam lições sobre o luto e a memória, sobre tudo que fica quando alguém tão importante vai embora. Não havia momento mais adequado para a história de Wanda vir à tona.
- Ted Lasso, segunda temporada (Apple TV).
Pode parecer óbvio colocar Ted Lasso em qualquer lista. Mas, o fato é que é impossível não colocar Ted Lasso em listas de melhores do ano, porque a série é, não só uma das melhores coisas do ano, como também uma das melhores coisas da TV em geral. 2021 foi o ano da segunda temporada, que além de continuar com sua fórmula emocional imbatível, entrou numa importante discussão sobre maniqueísmo que pautará a temporada que está por vir. É incrível que seja justamente numa série sobre o otimismo que vamos falar da maldade enrustida.
Maura Martins
Jornalista, editora de Escotilha
- Hacks (HBO)
Na minha humilde opinião, Hacks é uma das melhores séries de humor surgidas nas últimas décadas. Ela reúne vários elementos que a tornam impecável: um texto afiado (feito pelos mesmos roteiristas de Broad City), atrizes fantásticas (com destaque especial, claro, para Jean Smart) e uma premissa bem original. Além disso, a partir de um “duelo” geracional entre duas comediantes que poderiam ser mãe e filha, a série acaba sendo uma verdadeira aula sobre o funcionamento da comédia.
- Maid (Netflix)
A série mais tocante de 2021 é, sem dúvida, Maid. Ela conta, com muita delicadeza, a batalha travada por uma jovem mãe para sair de um casamento abusivo sem ter nenhuma rede de apoio. Mas o grande trunfo aqui é que a narrativa percorre caminhos bem pouco óbvios: ela consegue problematizar todos os personagens, inclusive o marido violento. Além disso, a protagonista – a mãe que foge – também é falha, tem contradições, volta atrás nas suas decisões.
- Succession, terceira temporada (HBO)
Succession é um dramalhão dos bons, criado a partir da típica fórmula das sagas sobre famílias complicadas, a qual já conhecemos bem. Mostra o amor e ódio entre os herdeiros de uma família bilionária, dona de um conglomerado de comunicação, que disputam entre si o lugar do patriarca, prestes a se aposentar (ou morrer – o que acontecer antes). Mas Succession é muito mais que isso: em um texto deslumbrante, repleto de camadas, temos referências a textos clássicos, temos drama e temos comédia, e temos acesso a questões psicológicas dos personagens muito mais profundas do que podem parecer à primeira vista. Na terceira temporada, acompanhamos como Kendall, o filho desgarrado do rebanho, lida com seu desejo paradoxal tanto de romper com o pai quanto de protegê-lo.
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