Há 13 anos, ia ao ar a primeira edição do que seria o reality show de maior popularidade da televisão tupiniquim, o Big Brother Brasil. Mesmo em sua 15ª edição, o programa continua sendo uma das maiores audiências da história recente das emissoras brasileiras. Mas a que se atribui todo o sucesso dessa competição? Certamente o jargão “novela da vida real” pode ser considerado um fator determinante no sucesso do programa, afinal, queira ou não, o brasileiro é noveleiro e adora meter o bedelho onde não foi chamado. Mas e se os telespectadores, assim como em outros países, não tivessem o poder de decisão sobre quem é eliminado do jogo? Será que o programa teria sobrevivido para uma segunda temporada?
Pois é. Nem todos os países seguem à risca o formato do original holandês, que também contava com eliminações a partir do voto do público. Por exemplo, as edições americanas e canadenses não apresentam intervenção do telespectador na escolha de quem permanece na casa, o que resulta em uma dinâmica completamente diferente do que estamos acostumados, tornando o reality show em um passatempo intrigante para o público devido ao constante clima de jogo que paira sob os participantes.
Para entender melhor a competição na terra do Tio Sam, que se encontra em sua 17ª temporada, o processo de eliminação acontece da seguinte forma: o líder (Head of Household), também eleito a partir de uma prova, deve escolher dois participantes (ou como eles mesmo dizem: hóspedes) para a berlinda. Semelhante à disputa pelo colar do anjo, em determinado momento ocorre a competição para o “Poder do Veto”. A diferença é que, aqui, o benefício tem como intenção anular o voto do líder, forçando-o a indicar outro brother para a eliminação, enquanto na versão do Boninho, o veto acontece para prevenir que determinado participante corra o risco de ir para o paredão. Para a eliminação, sai de cena as ligações do público e entra em foco os demais participantes. Um a um, os hóspedes se direcionam ao confessionário onde fazem um breve (sim, muito breve) discurso sobre quem deve deixar o confinamento. Por fim, o grande vencedor é eleito a partir do voto do júri, formado pelos últimos sete eliminados do jogo, que até então encontravam-se confinados em uma outra casa desde que se despediram dos antigos brothers.
O formato do Big Brother U.S., apesar de interessante, só funciona para um determinado público que anseia por um material mais elaborado, apreciador de estratégias e manipulações. O que não é o caso do telespectador brasileiro.
A presença do júri é uma prática que se assemelha muito ao formato do famoso reality show Survivor, competição que originou nosso finado No Limite. Devido à não-interferência do telespectador, os confinados têm maior liberdade para construir alianças e desenvolver jogadas muito bem arquitetadas, repletas de manipulações e muita lábia. Enquanto na versão brasileira “jogar” é um termo mal visto, a arte de manipulação e estratégias mirabolantes são tidas como pontos positivos para os jogadores da versão americana. Mas engana-se quem acredita que isso torna o jogo mais fácil. Apesar de não ter o público para conquistar, os hóspedes estão sempre em busca da jogada perfeita para que, quando um participante seja eliminado, todo seu rancor e dor de cotovelo pelo fim de sua estadia na casa sejam transformados em admiração por quem o eliminou, fazendo com que ele tire o chapéu para a grande jogada que resultou em seu desligamento do jogo.
No BBB esse jogo bem arquitetado é praticamente inexistente, pelo menos por parte dos brothers, o que leva a crer que os verdadeiros jogadores são aqueles que encontram-se aqui do lado de fora, com o controle remoto na mão. A partir do momento que alguém tenta mexer os pauzinhos no confinamento, o público o encara como o vilão da novela e trata logo de cortá-lo da história, fazendo com que os “tripulantes da nave mãe” estejam sempre buscando agradar o público, os verdadeiros jogadores do programa.
Ou seja, o formato do Big Brother U.S., apesar de interessante, só funciona para um determinado público que anseia por um material mais elaborado, apreciador de estratégias e manipulações. O que não é o caso do telespectador brasileiro. Com Você Decide, durante os anos 90, o país ficou fascinado pela ideia de poder decidir o fim das histórias que eram exibidas semanalmente nas noites da Globo. Dois anos após o cancelamento do programa, tinha início a primeira temporada do BBB, que, disfarçado de um jogo televisivo interativo, veio para saciar o vazio deixado nos corações dos amantes da “novela da vida real”.