Desde que desembarcou no Brasil pela primeira vez, em 24 de agosto de 1984, há muitas lendas por trás de Chaves. Há quem diga que o seriado foi um “brinde” dado a Silvio Santos ao fechar o acordo com a Televisa para ter as hoje tradicionais novelas mexicanas, outros dizem que o patrão resolveu investir na série de Roberto Gómez “Chespirito” Bolaños depois de observar seu sucesso em toda a América Latina, mas fato é que a chance à história do menino órfão que se escondia em um barril foi dada apesar de uma sonora reprovação de toda a diretoria do SBT na época. E se, hoje em dia, Silvio ainda mantém uma pecha de teimosia, imagine em seus tempos áureos…
Talvez o receio se justificasse ao fazer uma análise fria. Afinal, mesmo para os padrões da época, Chaves mostra uma precariedade de fazer corar. Os cenários de isopor (em algumas ocasiões, literalmente), o jogo de câmera sem muita invenção e, quando se arriscava, os efeitos especiais dariam vergonha alheia a qualquer incauto, não fosse pela capacidade de Marcelo Gastaldi (primeiro dublador e tradutor de Chaves) de abrasileirar o texto que conquistou a simpatia das crianças. Aliás, não só a simpatia.
Chaves pode não ter garantido tantos licenciamentos quanto a Disney ou a apresentadora Eliana, mas coletâneas de DVDs, LPs e alguns outros produtos continuam a lotar as prateleiras das lojas e os cofres dos herdeiros de Bolaños. Já nas emissoras, mesmo quando relegado a um tapa-buraco, o seu retorno é expressivo a ponto delas aventarem a possibilidade de comprar os spin-offs, caso de Ah! Que Kiko, na Band, e Chespirito, na CNT.
Chaves pode não ter garantido tantos licenciamentos quanto a Disney ou a apresentadora Eliana, mas coletâneas de DVDs, LPs e alguns outros produtos continuam a lotar as prateleiras das lojas e os cofres dos herdeiros de Bolaños.
De lá pra cá, muita coisa foi lançada: coletâneas de VHS e DVD, LP, CD e K7, além de outros licenciamentos que cativaram uma legião de fãs do norte ao sul do Brasil. De rejeitado, virou um clássico e o tapa-buraco favorito de Silvio Santos e estimulou outras emissoras a investirem em seus spin-offs, como os já citados casos da Band e CNT.
Mas nem com todo o sucesso indiscutível no Brasil esperava-se que as aventuras da Vila fossem parar no Multishow, um canal da Globosat que preza por séries de humor nacionais inéditas e programas musicais. Até porque, quando a Globo se via às voltas com Chaves, normalmente era quando se noticiava o estrago que a sitcom causava em sua média-dia. Mas talvez esse tenha sido o motivo pra apostar justamente no enlatado, só que com algumas regalias.
Episódios em ordem cronológica (alguns que não eram exibidos no Brasil há mais de vinte anos), remasterizados e com opção de áudio original em espanhol, naquilo que é considerado um grande fanservice, chamou a atenção. Dito e feito: o retorno da série aumentou a audiência em 71% em uma estratégia curiosa.
Essa é mais uma das demonstrações que permitiram o reboot de Full House (Três É Demais) e, mais recentemente, Roseanne, na ABC. Em tempos de muita novidade em todas as telas possíveis, apostar no passado pode se mostrar uma escolha acertada: por que já não apostar em algo que tem um público consolidado? A audiência aumenta, provoca um efeito cascata em todas as outras produções e, no caso do Multishow, um trabalho árduo conquistado a um custo irrisório.