Que atire o primeiro controle remoto aquele que nunca se encantou por alguma trama latina exibida no Brasil. Desde 1981, nós estamos acostumados a assistir a dicotomia do bem contra o mal acompanhada de caras e bocas, looks extravagantes e efeitos especiais questionáveis acompanhados de tramas que, por mais batidas que sejam, fascinam. Caso de A Usurpadora, Maria do Bairro, Ambição e até Rubi, que viraram febre no nosso país e já ajudaram, inclusive, a recuperar audiência de alguns canais menores (CNT que o diga).
Felizmente, Dueños del Paraíso está aí para provar que toda regra tem sua exceção. Também conhecida como A Dona do Paraíso (para quem acompanhou a narcotelenovela no canal Mais Globosat), o tapa-olho de uma tenebrosa vilã é substituído por armas de fogo, troca-se a fábrica ou empresa familiar dos protagonistas por um poderoso cartel e a mocinha sofredora dá lugar a Anastasia (Kate del Castillo), uma mulher que vê uma possibilidade de vencer na Miami do final dos anos 1970 ao se casar com o traficante Nataniel Cardona. A retratação de época, vale ressaltar, é um dos pontos fortes da trama, que se duvidar se mostra mais precisa do que aquela mostrada em Pecado Mortal (Record) ou mesmo Boogie Oogie (Globo), que se passam praticamente no mesmo período.
Quem já está acostumado a ver o tráfico ganhar as páginas policiais dos jornais, já deve imaginar que Nataniel coleciona muitos inimigos. Inimigos esses que, em uma emboscada, acabam por violentar a sua esposa em uma chocante e violenta cena. O cerco à Nataniel começa a se fechar cada vez mais e o casamento também não está em seus melhores momentos, mas é quando Anastasia descobre a amante bissexual do marido que a coisa complica.
Dueños del Paraíso definitivamente é uma exceção, talvez até para o brasileiro, já que suas cenas conseguem ser mais tensas e fortes do que aquelas vistas e aclamadas em A Força do Querer.
Completamente tomada pelo ódio, ela mata o próprio marido e passa a ser a poderosa dona do cartel, prometendo se vingar dos inimigos do marido e daqueles que a estupraram. Dueños del Paraíso definitivamente é uma exceção, talvez até para o brasileiro, já que suas cenas conseguem ser mais tensas e fortes do que aquelas vistas e aclamadas em A Força do Querer, novela das 21h da Rede Globo que apresentava uma Bibi Perigosa vivida por Juliana Paes, que em comparação com a latina, se mostra tão perigosa quando um chihuahua.
Kate del Castillo já era uma expert em narcotelenovelas (novelas que tratam sobre o tráfico de drogas, comuns na Colômbia e nos Estados Unidos) quando recebeu o convite para ser a “dona do paraíso”. Para quem não se lembra ou não sabe, ela viveu Tereza Mendonza em La Reina del Sur, trama que fez tanto sucesso que ganhou um remake nos Estados Unidos: Queen of South, estrelada pela brasileira Alice Braga. Entretanto, Anastasia se mostra muito mais inescrupulosa (e, às vezes, mais cruel) do que Tereza um dia imaginou ser na vida.
As histórias paralelas também são muito densas. A família que chega aos Estados Unidos recentemente e vê no tráfico uma possibilidade de permanecer no país, a mulher que sonha em ser uma famosa atriz e só encontra a possibilidade ao estrelar filmes pornôs e nem o núcleo colegial escapa de uma trama policial. Em um país que tem um “fetiche” por programas policiais que tomam de frente a programação das principais emissoras de televisão, é curioso pensar em como Dueños ainda não encontrou espaço na televisão aberta.
Mas, para quem quiser conferir, a trama está disponível no Netflix e tem a grande vantagem de não ser tão extensa. São apenas 71 capítulos com menos de 50 minutos de duração, para quem procura uma trama forte e envolvente, com certeza, é uma ótima opção para quem pretende trocar a balada por uma agitada maratona debaixo das cobertas.