Poucos nomes são tão sinônimo de sucesso na TV norte-americana como Dick Wolf. Nas últimas três décadas, esteve vinculado a seriados que perduraram por bastante tempo no ar, tornando-se difícil dissociá-lo de determinados gêneros, como o policial, por exemplo. Tenho a ligeira impressão que todos nós já assistimos, em algum momento, um episódio avulso de qualquer um dos integrantes da franquia Law & Order. Talvez por isso era de se esperar que FBI, sua mais nova aposta (mas em canal diferente do de costume: CBS, ao invés da tradicional NBC), obteria bons números de audiência.
O show acompanha os agentes especiais do FBI Maggie Bell (Missy Peregrym) e Omar Zidan (Zeeko Zaki) em seu trabalho cotidiano no escritório de Nova York da agência governamental. Estruturado como um seriado procedural (em que cada episódio narra uma história do início ao fim, enquanto uma trama maior se desenvolve como pano de fundo), ele obteve números expressivos logo de partida (estreia com quase 11 milhões de espectadores e episódios seguintes atingindo a marca de 13 milhões), o que não apenas lhe garantiu uma renovação para uma segunda temporada, bem como FBI já tem avançado um projeto de spin-off (a nova série seria intitulada FBI: Most Wanted. Ela seguiria a divisão do FBI encarregada de rastrear e capturar os notórios criminosos na lista dos mais procurados da agência).
Bell usa o trabalho como uma espécie de fuga da vida real. Ela perdeu o noivo recentemente, o que impactou a relação dela para com o FBI – mas não apenas isso, situações vivenciadas pela personagem em sua vida pessoal constantemente retornam para influenciar suas decisões profissionais. É uma personagem forte, obstina, mas também bastante sofrida. Já Zidan vem de um passado ligado ao exército dos Estados Unidos, tendo participado de missões no Afeganistão. Ainda que a origem ligada ao Oriente Médio permeie um pouco o seu dia a dia, é o histórico militar que parece contaminar as decisões do agente, tornando-o bastante sisudo e, por vezes, pouco ou nada sensível.
Ainda que Dick Wolf sempre responda que seus trabalhos não são contaminados pelo ambiente político do país, é difícil não enxergar uma opção política nas decisões presentes nos roteiros dos episódios. Dana Mosier (interpretada pela magistral Sela Ward) é a chefe do escritório. Em diversos episódios, a personagem é confrontada com situações sexistas dentro da agência. Jubal Valentine (Jeremy Sisto, de Six Feet Under) é um personagem ex-alcóolatra, enquanto Kristen Chazal (Ebonee Noel) é uma agente negra que procura subir na profissão dentro de um ambiente predominantemente masculino e branco.
Ainda que Dick Wolf sempre responda que seus trabalhos não são contaminados pelo ambiente político do país, é difícil não enxergar uma opção política nas decisões presentes nos roteiros dos episódios.
A bem da verdade, estes detalhes são apresentados de maneira tão sutil que até é possível crer nas constantes falas de Wolf sobre seus programas serem apolíticos. Contudo, os enredos dos episódios é que parecem ressaltar esse viés mais politizado. E, como tudo, é cada olhar que ficará encarregado de determinar o que o produtor e seu time de roteiristas pretende dizer. Porém, um olhar mais atento captará que FBI investe forte no medo constante dos norte-americanos, a paranoia coletiva que parece dominar a essência dos cidadãos das grandes metrópoles do país.
Terrorismo bacteriológico, espionagem, russos, muçulmanos e demais “monstros adormecidos” no imaginário americano estão sempre indo e vindo nas histórias. O talento de Dick Wolf, no entanto, é saber construir um produto que mexe com estes elementos sem ser histérico, ainda que dialogue, certeiramente, diga-se, com um público mediano mais acostumado com estes pastiches policialescos.
De uma perspectiva criativa, o problema de FBI é apostar em uma temporada de fôlego (até agora, são 18 episódios já exibidos, de um total de 22) para uma série procedural. Fica difícil definir se é uma arrogância ou loucura que uma cidade como Nova York esteja rotineiramente à mercê de perigos como terroristas, bombas, espiões, assassinos em série, etc. Longe de mim afirmar que o país não é constantemente ameaçado das mais diversas maneiras, de todo modo soa bastante inverossímil a curto prazo (e a longo também).
Particularmente, imagino que Wolf pretenda desenvolver seus personagens a longo prazo, dando mais espaço para suas histórias pessoais. Se optar por essa solução, recorrerá a algo semelhante que fez com Law & Order e Law & Order: SVU. Não à toa, ambas chegaram a 20 anos no ar. Histórico de acertos Dick Wolf tem.