Na última semana, a Disney ganhou as manchetes de todos os jornais do mundo. Dessa vez não foi por causa de mais uma animação que virou febre entre a garotada, mas, sim, pela compra da 21st Century Fox, o que transforma Mickey Mouse no mais novo chefe de figuras ilustres como Homer Simpson, Wolverine e de uma penca de canais ao redor do mundo. Tudo parte de uma ofensiva mundial para ampliar seu espaço e tamanho na mídia.
Pelo Brasil, os investimentos ainda são modestos. Desde 2015, o grupo compra (assim como as igrejas neopentecostais, os programas de jogos e infomerciais varejistas) duas horas na grade nacional do SBT para exibir o Mundo Disney pelas manhãs com uma audiência satisfatória. Aliado ao lançamento da série teen Z4, uma coprodução entre as duas empresas, o camundongo mais famoso do mundo estaria disposto a virar “sócio” do dono do baú, de acordo com Ricardo Feltrin.
Parcerias de grupos internacionais com emissoras latinas sempre existiram. A novidade é que esses mesmos grupos hoje desejam o controle parcial ou total dessas emissoras em uma tendência que vem ganhando força desde o início da década.
Parcerias de grupos internacionais com emissoras latinas sempre existiram. A novidade é que esses mesmos grupos, hoje, desejam o controle parcial ou total dessas emissoras em uma tendência que vem ganhando força desde o início da década, quando a Turner (responsável pelo Cartoon Network, CNN e outros) comprou a Chilevisión, emissora aberta do Chile. Anos mais tarde, foi a vez da Viacom (controladora da MTV e Nickelodeon) comprar a Telefe, principal rede de televisão aberta da Argentina.
O mais perto que a televisão brasileira chegou disso foi na década de 1960, quando houve uma sociedade de uma emissora carioca de tímida expressão com o Time-Life, poderoso grupo de mídia dos Estados Unidos. Apesar de controversa e denunciada como ilegal na época, seis anos depois a parceria se encerra, mas, naquele momento, a pequena emissora já havia se transformado na Rede Globo, líder de audiência no país e, hoje, segunda maior emissora de televisão no mundo.
Entretanto, diferente dos nossos vizinhos, aqui no Brasil grupos estrangeiros são impedidos de ter mais que 30% do controle acionário de uma empresa de comunicação. A baixa porcentagem e a falta de clareza ao estabelecer uma dinâmica de comando faz com que grupos como Cisneros, Televisa, Sony, Media Capital e, mais recentemente, Turner recuassem em suas ofertas.
É justo afirmar que esses mesmos grupos possuem um espaço cativo na TV por assinatura, mas em uma realidade na qual a Netflix, serviço de streaming sem qualquer participação nacional, já possui mais assinantes que a NET e a Sky e os pacotes da TV paga tradicional encarecem a medida que o próprio mercado acumula um déficit de R$ 6 bilhões com pirataria de sinal, pensar em médio-longo prazo se faz necessário.
Até porque o cord-cutting (termo que designa a troca da TV por assinatura por serviços de streaming) já é uma realidade em toda a América Latina. Os hábitos de consumo estão mudando e o mercado brasileiro é interessante para os conglomerados internacionais por ser altamente receptivo. Cabe a reflexão: talvez essa seja a alternativa mais viável para que a TV brasileira mantenha relevância e os profissionais mantenham seus empregos.