O romance estreia da atriz Fernanda Torres, Fim, lançado em 2013, mergulha fundo na vida e nos laços de um grupo de amigos que atravessam décadas lado a lado, encarando o inevitável passar do tempo. A obra discute a efemeridade da existência, explorando arrependimentos, amores desvanecidos e reflexões sobre a fugacidade da vida.
Com direção de Andrucha Waddington (de Eu, Tu, Eles e Casa de Areia), e roteiro supervisionado e escrito pela própria Fernanda, a minissérie Fim, adaptação do livro e coprodução da Conspiração Filmes com a Globo, ganhou dez episódios, todos já disponíveis no streaming Globoplay. Vale muito a pena ver, independentemente de você ter lido ou não a obra que a originou.
A narrativa se desdobra por meio das perspectivas de cinco personagens centrais: o bonachão Álvaro (Thelmo Fernandes), o tresloucado Sílvio (Bruno Mazzeo), o sedutor Ribeiro (Emílio Dantas), o responsável Neto (David França) e o belo e romântico Ciro (Fábio Assunção). Esses amigos de longa data compartilham suas vivências, farras, memórias e desilusões enquanto encaram os desafios inerentes ao envelhecimento e lidam com a iminência da morte.
Com maestria, Fernanda Torres, tanto no romance como na série, entrelaça as histórias desses personagens, explorando a complexidade das relações humanas, a fragilidade dos sonhos e a inevitabilidade das transformações ao longo do tempo. Fim oferece uma visão melancólica e, por vezes, humorística da vida, revelando como escolhas do passado reverberam no presente e moldam o futuro desses indivíduos.
‘Fim’: feminismo
A maior diferença entre o livro e sua adaptação audiovisual é o destaque dado às personagens femininas.
A maior diferença entre o livro e sua adaptação audiovisual é o destaque dado às personagens femininas. Enquanto o romance vai fundo na discussão da crise da masculinidade, a série dá também muito espaço às mulheres na vida desses homens, de uma perspectiva assumidamente feminista.
Marjorie Estiano, em atuação extraordinária, é Ruth, paixão de Ciro, com quem se casa, e de Ribeiro, que por ela nutre um amor platônico por toda a vida. Solar, a personagem, por conta de um segredo dela ocultado pelo marido, vai desmoronando emocionalmente ao longo dos episódios. Também brilha Débora Falabella, a sempre insatisfeita Irene, mulher de Álvaro, que nunca o amou – ou respeitou.
Completam o elenco feminino principal a ótima Laila Garin, que vive a recatada Norma, prima de Ruth, vinda do interior, que se casa com o hedonista e autodestrutivo Sílvio, na melhor atuação da carreira de Mazzeo, e a também competente Heloisa Jorge. Ela é Célia, mulher de Neto, criada por pais conservadores, interpretados por Zezé Motta e Ary Fontoura.
Pano de fundo histórico
O enredo agridoce de Fim se desenrola em diferentes épocas da história do Brasil, dos anos 1960 aos 90, inserindo a trajetória dos personagens em eventos marcantes do país. Essa ambientação histórica acrescenta camadas à narrativa, evidenciando como mudanças sociais e políticas impactam profundamente as vidas pessoais dos protagonistas.
A série captura as nuances dos relacionamentos humanos, proporcionando uma reflexão sensível e profunda sobre a passagem inexorável do tempo, a essência da amizade, o enlace do amor e as escolhas que forjam nossos destinos.
Graças à direção segura de Waddington, escorada pelo roteiro primoroso e uma impecável reconstituição de época, presente na direção de arte, nos figurinos e na trilha sonora, Fim é uma das melhores produções de 2023, proporcionando ao público uma experiência imersiva e emocional, ao explorar os anseios, temores e alegrias que permeiam a trajetória humana pela existência.
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