Um dos ícones mais marcantes da comunicação brasileira, Cid Moreira faleceu nesta quinta-feira, 3 de outubro, aos 97 anos, devido a complicações de uma insuficiência renal crônica. Ele estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, onde tratava de uma pneumonia. Sua morte representa o fim de uma era na televisão do país, onde sua voz grave e inconfundível ecoou em lares brasileiros por mais de meio século.
Nascido em 29 de setembro de 1927, em Taubaté, interior de São Paulo, Cid Moreira teve uma trajetória que se entrelaça com a própria evolução da mídia no Brasil. Muito antes de sua fama consolidada na TV, Cid começou no rádio, ainda jovem, aos 17 anos. Descoberto por um diretor da Rádio Difusora de sua cidade, rapidamente se destacou pelo timbre de voz singular, que logo o levaria a oportunidades maiores em São Paulo. Seu início foi marcado pela narração de comerciais e programas de rádio, mas a década de 1950 traria uma mudança definitiva para a televisão.
Sua estreia na TV ocorreu em 1963, quando se juntou ao Jornal de Vanguarda. Naquele momento, a televisão brasileira ainda estava engatinhando, e Cid foi uma das figuras que ajudou a moldar o jornalismo televisivo no país. Contudo, foi em 1969 que sua carreira decolou de vez, quando se tornou o apresentador inaugural do recém-lançado Jornal Nacional, na TV Globo. Ao lado de Hilton Gomes, Cid ajudou a estabelecer o padrão de jornalismo televisivo que se tornou referência no Brasil. Nos anos seguintes, ele seria acompanhado por seu parceiro mais notável, Sérgio Chapelin, com quem dividiu a bancada por mais de uma década.
Durante os 27 anos em que apresentou o Jornal Nacional, Cid Moreira não apenas comunicou notícias – ele representou estabilidade e confiança em tempos de incerteza. Ele estava lá durante os anos mais turbulentos da história do país, narrando crises políticas, mudanças econômicas e transformações sociais. Sua habilidade de transmitir informações complexas de forma clara e objetiva, sem perder a compostura, o fez ser respeitado tanto pelos colegas quanto pelo público. Para muitos brasileiros, o “boa noite” que Cid oferecia ao final de cada edição se tornou um ritual diário, quase uma garantia de que, apesar das notícias difíceis, o país estava em boas mãos.
Durante os 27 anos em que apresentou o Jornal Nacional, Cid Moreira não apenas comunicou notícias – ele representou estabilidade e confiança em tempos de incerteza.
Além de seu papel no jornalismo, Cid era conhecido por sua incursão na narração de textos religiosos. Sua voz poderosa deu vida a salmos e passagens bíblicas em gravações que alcançaram um público diverso, muito além das tradicionais fronteiras do jornalismo. No auge de sua maturidade profissional, Cid encontrou nas redes sociais uma nova maneira de se conectar com audiências mais jovens, muitas vezes desconhecedoras de sua trajetória no Jornal Nacional. Com seu carisma intacto, ele conseguiu atrair uma nova geração para seus trabalhos de narração espiritual, mostrando uma faceta mais introspectiva, mas ainda com o vigor e o compromisso com a palavra que marcaram sua carreira.
Cid deixou a bancada do Jornal Nacional em 1996, sendo substituído por William Bonner e Lilian Witte Fibe, num momento em que a emissora passava por uma renovação. Mesmo com sua saída, a sombra de sua influência continuou a pairar sobre o jornalismo brasileiro. Seu trabalho no Fantástico, especialmente na narração do quadro de Mister M, ficou gravado na memória coletiva de milhões de brasileiros, demonstrando a versatilidade de Cid como narrador e apresentador.
Em uma recente entrevista, Fátima Sampaio, a companheira de 25 anos, destacou a força de caráter do marido, lembrando que mesmo nos momentos mais difíceis, ele mantinha sua serenidade e otimismo, características que definiram tanto sua vida profissional quanto pessoal.
Cid deixa um legado profundo e duradouro na história da comunicação brasileira. Mais do que um simples comunicador, Cid era um símbolo de integridade, profissionalismo e dedicação inabalável ao ofício. Sua morte encerra uma era, mas sua influência permanece.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.