Eventualmente, a famosa frase “parente é serpente” encontra novas atualizações no noticiário. Este é um “nicho” do entretenimento que já foi bem explorado no caso da cantora Britney Spears (por anos, colocada sob um cabresto legal pelo pai) e que agora ganhou uma versão brasileira à altura com a entrevista dada por Larissa Manoela ao Fantástico.
Exibida no último domingo, a entrevista realizada por Renata Capucci condensou uma história que já tinha sido costurada na mídia nos últimos meses, dando conta do rompimento da atriz e cantora dos seus pais. Aos 22 anos, Larissa já tem 18 anos de carreira bem-sucedida, na qual consolidou um patrimônio de 18 milhões de reais – que foram concedidos para os pais depois do estabelecimento do “divórcio parental”.
Ao longo da conversa com a repórter, foram exibidos vários áudios e recortes de trocas de mensagem de WhatsApp, apresentados como provas do testemunho dado por Larissa. Os destaques foram dados ao que seria mais chocante, como um diálogo em que a atriz pede que a mãe faça um Pix de 10 reais para um vendedor de milho na praia, por ela não ter dinheiro em conta. Noutro momento, os pais são expostos em uma suposta mentira, ao dizer que a empresa registrada no nome de Larissa teria os três como sócios com 33% de ações – quando, na verdade, a atriz teria apenas 2%.
A entrevista do Fantástico, configurada em tom solene, trouxe ótimos resultados para a Globo, angariando picos de 23 pontos de audiência em São Paulo – a última vez que este índice foi marcado ocorreu na cobertura da tentativa de golpe, no dia 8 de janeiro. Nos demais noticiários, a conversa também serviu para impulsionar vários outros materiais, como análises sobre as possibilidades legais da doação da fortuna aos pais, a sugestão de uma “lei Larissa Manoela” e, claro, milhares de opiniões não requisitadas que fazem a roda continuar girando.
Jornalismo ou entretenimento?
É preciso atentar-se, também, que a “justiça” que Larissa Manoela procura buscar também se dá pelas mídias. É preciso fazer com que isso ocorra gerando lucro aos patrões da atriz.
Obviamente, há algum serviço prestado à população neste tipo de jornalismo de entretenimento (é até engraçado categorizar como entretenimento uma contenda familiar deste tipo, mas é o que é). Talvez uma contribuição possível à população seja a de prestar possíveis esclarecimentos a tantos pais que sonham em tornar seus filhos famosos expondo-os na internet. Eventualmente, pode surgir daí alguma consciência de que há mais exploração que orgulho na iniciativa.
É claro que quase ninguém chegará aos níveis de fama e sucesso de Larissa Manoela, mas casos deste tipo – assim como de Britney Spears, Macaulay Culkin, Michael Jackson, entre tantos outros – podem se prestar para algum tipo de discussão sobre os altos preços pagos pela visibilidade midiática. Se a prisão não for financeira, ela tende a ser da corrida eterna pela exposição, já que quem é visto não é lembrado.
É preciso atentar-se, também, que a “justiça” que Larissa Manoela procura buscar também se dá pelas mídias. Afinal, achar um consenso com os pais não parece ser suficiente: é preciso fazer com que isso ocorra gerando lucro aos patrões – no caso, a maior empresa de televisão do país.
E, deste modo, por pior que seja toda a situação causada pelos pais da atriz, vale lembrar que, no fim das contas, a briga se configura como mais um produto, explorado tanto por seus empregadores, como pelos mal intencionados. É no mínimo irônico que os programas de fofoca, como A Tarde É Sua, de Sonia Abrão, critiquem a exposição do caso, já que, basicamente, essas atrações só existem por ter este tipo de “lenha” para queimar. E assim, tudo segue ocorrendo como sempre na televisão, sem grandes novidades.
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