O Brasil está em pé de guerra. Quanto a isso, não há mais dúvidas. A polarização política, que também reflete abismos culturais, sociais e econômicos, em um país hoje dividido, há tempos não se restringe à esfera pública. Invadiu a vida privada. A ótima série Os Outros, original Globoplay, traz essa atmosfera belicista para dentro do Barra Diamond, um condomínio de classe média no bairro carioca da Barra da Tijuca, um dos berços do bolsonarismo.
O estopim dessa bomba é uma briga entre dois adolescentes que leva a um conflito violento entre as famílias dos rapazes, com consequências trágicas. No centro de tudo, estão a violência e o uso de armas como formas de resolução de conflitos.
Escrita por Lucas Paraízo, um dos criadores da brilhante série Sob Pressão, Os Outros tem direção artística de Luisa Lima. Adriana Esteves, sempre excelente, vive Cibele, a mãe do jovem agredido na quadra de esportes do condomínio, Marcinho (Antonio Haddad).
Escrita por Lucas Paraízo, um dos criadores da brilhante série Sob Pressão, Os Outros tem direção artística de Luisa Lima.
Revoltada com a agressão sofrida pelo seu filho, a mulher vai tirar satisfações do agressor e acaba batendo de frente com o pai de Rogério (Paulo Mendes), Wando, vivido com fúria por Milhem Kortaz, que é uma verdadeira bomba relógio: ele acaba de ser demitido e leva com a esposa Mila (Maeve Jinkings) uma relação abusiva em vários âmbitos, inclusive o sexual.
Enquanto Cibele é uma mãe superprotetora, Wando é idolatrado pelo filho, um garoto agressivo ao limite da psicopatia que enxerga na masculinidade tóxica do pai um exemplo. O marido de Cibele e pai de Marcinho (Thomas Aquino) é o extremo oposto. Sensato e compassivo, ele é por vezes destratado pela esposa, que o considera pacífico demais. Tanto que ela vai buscar a ajuda de Sérgio (Eduardo Sterblitch), um ex-policial corrupto e violento que lhe vende uma arma de fogo e vai entregar muita crueldade ao tentar tirar vantagem da briga entre os vizinhos
Os dois primeiros episódios de Os Outros são construídos em torno de suas protagonistas, o primeiro de Cibele e o segundo de Mila. A câmera é expressiva, investigativa, e faz do condomínio uma espécie de microcosmo do Brasil contemporâneo, onde o inimigo pode literalmente morar ao lado.
Dois novos capítulos vão ao ar toda semana, às quartas-feiras.
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