Substituindo a bem-sucedida Rock Story, trama de Maria Helena Nascimento, estreou semana passada a novela Pega Pega, primeira autoria em voo solo de Cláudia Souto. Ambientada no Rio de Janeiro e em um horário normalmente dedicado a tramas classificadas como comédias românticas, a nova novela acrescenta à sua definição um gênero pouco ortodoxo ao horário: o policial.
Assim como sua antecessora, que tinha como pano de fundo a música, que envolvia todo o enredo, a nova novela tem como fio condutor um roubo milionário. O Hotel Carioca Palace é o cenário principal da trama e é ali que a maioria do núcleo de atores se encontra, unindo no mesmo ambiente milionários e trabalhadores. E é o dinheiro da sua venda que é furtado por quatro funcionários que estão passando por uma difícil situação financeira.
Durante este conturbado momento político que nosso país enfrenta, este roubo pretende provocar o público com questionamentos sobre ética e honestidade. O gênero policial buscará construir uma narrativa que faça as pessoas repensarem suas atitudes diárias, sem nunca perder o humor. Em entrevista ao site TV Foco, a autora disse que a ética será tratada na novela de uma forma leve, divertida e sem sermão. “Pelo fato de minha origem na TV ser de humorista, estou num lugar confortável. O humor permite tocar nas feridas da sociedade, encontrando o que há de risível, sem deixar de fazer a crítica. Daí eu tiro a leveza e a comicidade”, disse.
Até agora a surpresa mais gratificante e o maior destaque é algo cada vez mais raro nas novelas da Globo: uma abertura muito simpática e com identidade. O hit de John Lennon e Paul McCartney, “A Hard Day’s Night”, embala a produção. A letra fala sobre um dia pesado de trabalho e a vontade de voltar para casa e encontrar a pessoa amada. A música fez grande sucesso nos anos 60 e, nesta nova versão, é interpretada pela banda Skank.
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Outro ponto positivo é o excelente elenco. No núcleo de humor temos Marcos Caruso como Pedrinho Guimarães, o primeiro dono do hotel, que se tornará um milionário falido; Mariana Santos como Maria Pia, uma mulher apaixonada pelo melhor amigo e dona das melhores caras e bocas, e o quarteto de “ladrões”, formado por Marcelo Serrado como Malagueta – o mentor de todo o esquema -, pelo casal sexy e envolvente Agnaldo e Sandra Helena (vividos pelos atores João Baldasserini e Nanda Costa) e por Júlio, personagem de Thiago Martins, que aceita participar do crime por medo dele e das tias Elza (Nicette Bruno) e Prazeres (Cristina Pereira) serem despejados.
No núcleo policial temos Vanessa Giácomo como a investigadora Antônia e Marcos Vera como o policial Domenico. Nos demais núcleos há ainda grandes nomes como Danton Mello, Reginaldo Faria, Irene Ravache, Elizabeth Savalla e Guilherme Weber, engrandecendo o conjunto. Porém, apesar de termos grandes atores e boas cenas, o casal protagonista, Eric e Luíza – mesmo sendo interpretados pelos brilhantes Mateus Solano e Camila Queiroz -, não tem química e não funciona tão bem, falta sintonia.

Apesar de algumas críticas dos internautas aos primeiros capítulos e da estreia não ter sido perfeita, ainda é cedo para maiores avaliações. Resta saber se o mote do enredo vai cativar os telespectadores e fazer com que eles não desistam de acompanhar o desenrolar da história.
Eric é o comprador do hotel e conhece Luíza quando a jovem vai lhe entregar uns papéis a mando do avô, Pedrinho. Os dois se aproximaram rapidamente e se apaixonam à primeira vista. Mas, apesar da história dos dois iniciar ambientada pelas belíssimas paisagens de Foz do Iguaçu, o casal não convence. Esta empatia imediata entre mocinho e mocinha beirou a artificialidade de novela mexicana. Ainda não tivemos nem tempo de nos afeiçoar e conhecer o casal e os obstáculos para separa-los já começaram a aparecer.
O empresário também tem uma filha, Elizabeth (vivida por Valentina Herszage), uma adolescente rebelde que após traumas na infância vive fugindo e não se adéqua ao estilo de vida do pai. Esta relação origina diálogos primários, com frases que soam até infantis, nas quais ele diz à Luíza que não sabe lidar com a filha e suas esquisitices, ouve o tão clichê conselho “Só o seu amor poderá curar seja lá o que for” e tenta justificar seus erros afirmando que “nunca soube amar”.

E, por falar nas esquisitices de Bebeth, a personagem conversa com um canguru de pelúcia, animada por computação gráfica, a quem chama de flor e que se torna uma espécie de amiga imaginária má da garota. Vale torcer para que essa amizade não prospere e o bicho saia logo da história, pois as cenas soam um tanto quanto forçadas e deslocadas para explicar o porquê de a adolescente estar se tornando uma cleptomaníaca.
No quesito audiência, a produção se beneficiou do sucesso de suas antecessoras no horário e teve a melhor estreia desde Cheias de Charme, em 2012, registrando a média de 28,8 pontos em seu primeiro capítulo. Das faixas da Rede Globo, a das sete é a única que se mantém estável na emissora: Haja Coração, Totalmente Demais, I Love Paraisópolis e Alto Astral cativaram público e crítica e mantiveram bons índices. Sendo assim, a trama tem o desafio de não derrubar essa estabilidade.
O romance dos protagonistas é sonso, mas as sequências que envolvem o roubo do Carioca Palace se destacaram e salvaram os capítulos da primeira semana. Vamos torcer para que agora que Luíza perdeu toda sua fortuna e que Eric está sendo acusado como o principal suspeito do assalto, os mocinhos se tornem mais interessantes e menos chatos.
Então, apesar de algumas críticas dos internautas aos primeiros capítulos e da estreia não ter sido perfeita, ainda é cedo para maiores avaliações. Resta saber se o mote do enredo vai cativar os telespectadores e fazer com que eles não desistam de acompanhar o desenrolar da história. Claudia Souto é dona de um texto limpo, com um humor interessante e tem uma boa história nas mãos para desenvolver. Pega Pega tem potencial!