Unbreakable Kimmy Schmidt é um dos casos mais curiosos da televisão atual por inúmeros motivos. Desde o momento que foi recusada (de maneira inexplicável, é preciso pontuar) pela NBC até se tornar sensação da nova safra do “humor inteligente” na Netflix, Unbreakable Kimmy Schmidt serviu como demonstração de que a dupla Tina Fey e Robert Carlock eram capazes de fazer comédia em alto nível, e que 30 Rock não era um caso pontual na carreira de ambos.
A grande diferença possível de ser sentida em Unbreakable Kimmy Schmidt, e presente também em sua hilária segunda temporada, é como o humor ainda é capaz de ser original mesmo que travestido de nonsense, o que torna Kimmy uma das mais inteligentes personagens das séries atuais mesmo sendo “boba”. Tina Fey e Robert Carlock não se interessam em fazer nonsense com personagens “idiotas” pelo fazer, o subtexto da série é forte.
Diferente da primeira temporada, onde Titus (Tituss Burgess) roubou muito a atenção, a segunda traz Kimmy ao protagonismo, enquanto equilibra seus coadjuvantes em abordagens extremamente necessárias – e isto feito muito antes de termos a confirmação de Donald Trump como próximo presidente norte-americano.
A segunda temporada traz Kimmy ao protagonismo, enquanto equilibra seus coadjuvantes em abordagens extremamente necessárias – e isto feito muito antes de termos a confirmação de Donald Trump como próximo presidente norte-americano.
Jacqueline White, vivida pela incrível Jane Krakowski, precisa enfrentar um novo momento em sua vida quando se divorcia e acaba voltando a morar com seus pais, nativos norte-americanos. Fey e Carlock não apenas montam uma trama capaz de criticar o tratamento dado aos nativos, como a necessidade de empoderamento da mulher. A jornada de Jacqueline é justamente esta, de entender que ela pode ser completa e feliz sem a necessidade de um homem ao seu lado. Não há didatismo no roteiro. Os personagens são convidados a entender que eles podem ser quem quiserem, e que esta decisão só diz respeito a eles.
Da mesma forma, Titus encara o amor, o perder-se nas mãos de um outro alguém. E curiosamente é Kimmy quem melhor trabalha o relacionamento e os sentimentos do amigo. Mike Carlsen e seu Mikey Politano foram adições fundamentais à série, não apenas por dar voz a uma minoria de poder, mas por fazer isso naturalizando o discurso em sua trama.
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E se não fosse o suficiente, Lilian (Carol Kane) ainda luta ao longo de muitos episódios contra a especulação imobiliária e a gentrificação. Quem acompanha o noticiário norte-americano sabe que há uma luta ferrenha da prefeitura de Nova York e organizações sociais contra aplicativos como Airbnb, acusados de promoverem este processo em determinadas regiões da cidade.
Mesmo Kimmy (Ellie Kemper) enfrenta suas próprias crises. Ela segue a busca por sua reinclusão na sociedade e serve de ponte a que possamos refletir sobre os imigrantes ilegais em solo americano. E é por essa complexidade de temas trazidos de forma tão lúcida em Unbreakable Kimmy Schmidt que ela é uma das melhores coisas no catálogo da Netflix.
A esperar o que teremos no próximo ano, já cientes de Trump na presidência, a quem a dupla de criadores tem como persona non grata. É realmente imperdível.