As séries e filmes sobre jornalismo são recorrentes dentro da ficção. É tanta história que retrata a suposta rotina heroica de redações no mundo todo que fica difícil inovar dentro neste nicho. A série Alasca: Em Busca da Notícia, presente no catálogo da Star+, infelizmente, não traz grandes contribuições nesse aspecto.
O que não significa que a série estrelada por Hilary Swank não tenha pontos interessantes. A narrativa criada por Tom McCarthy (que dirigiu Spotlight: Segredos Revelados, outra obra sobre jornalismo, em 2015) se ocupa em contar a história de uma repórter talentosa, mas egocêntrica, chamada Eileen Fitzgerald (papel de Swank). Ela foi acusada de um erro em uma matéria envolvendo um escândalo político e acaba “cancelada”, tendo que se retirar do mercado e passar a se dedicar apenas a livros (na verdade, ela procura uma ocupação enquanto ninguém a contrata).
Quando um antigo chefe (Stanley Cornik) liga oferecendo uma vaga em um pequeno jornal no estado do Alaska, Eileen se sente humilhada de certa forma. Mas não há outra opção, e ela acaba se mudando para lá para atuar no The Daily Alaskan, um veículo com ênfase nas notícias locais.
Contudo, o fato de serem pequenos e meio falidos (a redação está alocada em um shopping) não impede que os jornalistas se aventurem em reportagens investigativas de fôlego, que mexem sobretudo com as fontes do poder no Alasca, estado que é pintado na série como um dos mais abandonados dos Estados Unidos. Eileen, ao lado da jovem repórter Roz (Grace Dove), entra em uma investigação densa que busca entender por que está ocorrendo muitos assassinatos de mulheres locais, de origem nativo-americana, enquanto o governo não executa qualquer plano para solucionar estes crimes.
Esta história irá ser abordada, esquecida e recuperada ao longo dos onze episódios, que também trazem vários outros casos envolvendo todos os jornalistas, sugerindo um esquema procedural, ao exemplo de séries longevas como House, E.R. e Law and Order. Contudo, por mais que a temática seja interessante (a novidade aqui é o foco no jornalismo local, ao invés dos grandes veículos), o resultado fica aquém das expectativas.
‘Alasca’: roteiro frágil e elenco fraco
Alasca: Em Busca da Notícia apresenta dois problemas centrais: o elenco e o roteiro. Ou seja, os pilares de fundação da série não são sólidos, dando pouca margem para um resultado positivo.
Fica claro que Eileen deve ser retratada como uma pessoa arrogante, mas Swank perde tanto a mão que ela começa a parecer uma máquina.
Para começar, vejamos o roteiro. Ainda que se pretenda uma série procedural, em que casos isolados ocorrem em cada episódio, há uma amarração pobre da temporada e muitos buracos que ficam na trama. O caso central, da morte da nativa-americana Gloria Namac, aparece logo no primeiro episódio, parece ser esquecido e volta ao final. Até aí, tudo bem – mas a questão é que muitos detalhes não são explicados após haver a solução do caso. Não sabemos, no fim, o que exatamente aconteceu com ela.
Além disso, ainda que Alasca tenha alguns momentos inspirados, a série descamba excessivamente aos estereótipos da profissão. Os “arquétipos” dos jornalistas são batidos: a profissional que não para nunca de trabalhar, a crise constante quanto à perda de emprego, a dificuldade de lidar com a dureza do ofício. Alguns clichês beiram o ridículo, como o impasse entre ter que decidir entre um jornal pequeno e uma proposta do New York Times.
Mas tudo isso se sustentaria melhor caso houvesse um elenco reluzente. Curiosamente, a própria estrela da série, Hilary Swank (que já venceu o Oscar duas vezes), constrói uma personagem tão pouco crível que beira o insuportável. Fica claro que Eileen deve ser retratada como uma pessoa arrogante, mas Swank perde tanto a mão que ela começa a parecer uma máquina. A sua “humanidade”, representada pelos ataques de pânico que tem, também ficam largados pelo meio da história.
Igualmente duro está o elenco de apoio, mais inexperiente. As cenas de romance não convencem e toda interação que aparece entre os personagens dá a impressão de ser um ensaio de estudantes. Há exceções, claro (o experiente Stanley Cornik, que fez Scandal, poderia entrar aqui); mas, de modo geral, o resultado é fraco.
Com tantos pontos frágeis que transparecem nos onze episódios, não é de espantar que Alasca: Em Busca da Notícia tenha sido cancelada logo na primeira temporada.
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