O caminho de Better Call Saul até se tornar uma grande série foi cheio de percalços. O spin-off de Breaking Bad viveu à sombra de sua origem, o que prejudicou a relação com o público, que parecia querer ver na tela a continuação da trama de Walter White. Juntava a isso o fato de que, na primeira e na segunda temporada a equipe de roteiristas de Vince Gilligan e Peter Gould pecou pela lentidão.
Saul Goodman era um personagem complexo e que merecia uma série para si. O que causou decepção no público foi que a estratégia de seguir a vida de James Morgan “Jimmy” McGill (Bob Odenkirk) até o momento em que ele se torna o personagem emblemático de Breaking Bad estava tomando tempo, muito tempo. Em qualquer outra situação, o público entenderia melhor o desafio de construir um personagem, mas no caso de Better Call Saul causava certa angústia as diferenças gritantes entre Jimmy e Saul.
A terceira temporada, encerrada este ano, talvez tenha sido a grande responsável por dar uma guinada na percepção do público – e mesmo da crítica. Com a aparição de Gus Fring (Giancarlo Esposito) na trama, o cruzamento entre as duas séries passou a fazer mais sentido e ficamos mais próximos de conhecer o verdadeiro Saul Goodman. Na mesma medida, deu maior sentido à presença de Mike (Jonathan Banks), que, apesar de ser coadjuvante na série, tem papel preponderante na transformação de Jimmy em Saul – afinal, em Breaking Bad, Goodman é introduzido justamente por Mike.
A terceira temporada, encerrada este ano, talvez tenha sido a grande responsável por dar uma guinada na percepção do público – e mesmo da crítica.
Entretanto, não foi apenas a inclusão de personagens marcantes de Breaking Bad o que tornou Better Call Saul verdadeiramente incrível. Os arcos narrativos de vários personagens foram muito bem construídos e apresentados em episódios empolgantes, que certamente ficarão marcados na história da televisão contemporânea. “Chicanery” (quinto episódio) e “Off Brand” (sexto episódio), escritos por Gordon Smith e Ann Cherkis, respectivamente, são pequenas obras-primas da narrativa televisiva. Inclusive, “Chicanery” foi, inclusive, indicado ao Emmy Awards de melhor roteiro em série de drama (categoria vencida por “Offred”, de The Handmaid’s Tale).
Indicada a nove categorias na edição 2017 do Emmy Awards (já são 23 indicações no total destas 3 temporadas), a série não levou nenhum prêmio para casa, mas as nominações são um excelente indício de que a série da AMC está marcando época na TV – e, em alguma medida, mantendo vivo o espírito Breaking Bad em todos nós.