Chega a soar uma ideia um tanto esdrúxula fazer uma crítica de Cavaleiros do Zodíaco, dada a quantidade de fãs fanáticos que esta série já possui aqui no Brasil. Mas, para o caso de alguém ter “caído de paraquedas” e acabado de ouvir falar deste anime, dar-me-ei a liberdade de escrever alguns comentários sobre ele e toda a sua grandiosidade.
A bem da verdade, Cavaleiros do Zodíaco (ou Saint Seiya, no original japonês) tornou-se algo tão grande, que mal sei como escolher as palavras para descrever esta série em um espaço tão pequeno. Mas vamos tentar.
Estreando na TV japonesa em 1986, Cavaleiros do Zodíaco não alcançou a mesma popularidade global que outros animes da mesma época, como Dragon Ball – nos EUA, por exemplo, só foi ao ar pela primeira vez em 2003 -; porém, em um caminho curioso, tornou-se primeiro bastante popular em países europeus como França, Espanha e Portugal, dos quais foi então exportado para a América Latina, onde conquistou um status semelhante ao de uma religião, com DVDs da série sendo encontrados com facilidade e reprises vira e mexe passando na TV em diferentes canais.
Uma experiência audiovisual que pode ser apreciada quase como uma obra de arte devido ao seu esplendor estético.
A primeira coisa que chama a atenção é sua premissa um tanto original, que foge dos animes de mechas e/ou artes marciais típicos de sua época (e, sejamos sinceros, ainda hoje). Partindo da ideia de que nosso mundo contemporâneo é regido por antigos deuses mitológicos (em geral gregos, embora o anime também abra espaço para a mitologia nórdica), o programa foca nos guerreiros destinados a proteger tais deuses (os “Cavaleiros” do título) utilizando armaduras que representam as diferentes constelações do céu, junto com um poder místico chamado Cosmo. Mais especificamente, o foco é em cinco jovens Cavaleiros de Bronze – Seiya, Shiryu, Shun, Hyoga e Ikki -, defensores de Saori Kido, a atual encarnação terrena da deusa Atena.
Cavaleiros do Zodíaco é dividido em quatro grandes “sagas” (a última sendo lançada como uma série separada treze anos após o cancelamento da série principal), e cada fã parece ter a sua saga favorita: seja a Saga do Santuário (em que os Cavaleiros de Bronze são espancados até sangrar tentando salvar Saori da ameaça de outros guerreiros, que querem matá-la em nome de uma divindade), a Saga dos Asgardianos (em que os Cavaleiros de Bronze são espancados até sangrar tentando salvar Saori da ameaça de outros guerreiros, que querem matá-la em nome de uma divindade), a Saga de Poseidon (em que os Cavaleiros de Bronze são espancados até sangrar tentando salvar Saori da ameaça de outros guerreiros, que querem matá-la em nome de uma divindade), ou a Saga de Hades (em que os Cavaleiros de Bronze são espancados até sangrar tentando salvar Saori da ameaça de outros guerreiros, que querem matá-la em nome de uma divindade).
Falando assim, pode parecer que a série é um tanto repetitiva… E é, mas há muitas coisas que a salvam e fazem o público esquecer isso.
Primeiro há o pano de fundo da história, que por si só já é bastante original, unindo mitologia, ação e atualidade bem antes de franquias como Deuses Americanos e Percy Jackson, e podendo gerar um maior interesse nos espectadores em estudar mitologia. Falando nisso, a série é recheada de referências mitológicas, mas estas não são esfregadas na cara do público, e sim sutilmente espalhadas em detalhes como a história de vida de um personagem, ou a personalidade dele e/ou seus objetivos, ou então como alguma luta se desenrola…
Os protagonistas são também o tipo de herói pelo qual queremos torcer, e embora se faça piada do quanto eles mais apanham do que batem nas lutas, isso só mostra o quão determinados eles estão em se arriscar para defender Saori e a justiça que ela representa. A forma como seus diferentes poderes e fraquezas são explorados também rende lutas brutais e cheias de efeitos de animação, com cada herói eventualmente recebendo seu destaque e enfrentando inimigos que os desafiam física e psicologicamente, muitas vezes aprendendo lições que os fazem se conectar com seus oponentes, uns com os outros, e compreenderem a importância de sua luta.
Mas o que, no fim das contas, torna esta série uma verdadeira pérola no mundo das séries animadas e a diferencia de outras animações de ação e aventura é, principalmente, a forma como ela se utiliza de uma belíssima junção de animação à frente de sua época na riqueza de detalhes (embora, com mais de cem episódios, é lógico que haverá alguns melhores e outros “menos melhor” animados) e trilhas sonoras bastante emotivas compostas por Seiji Yokoyama, criando assim uma experiência audiovisual que, embora não necessariamente a mais “divertida” em comparação com outros animes de ação – muitas das lutas são extremamente lentas -, pode ser apreciada quase como uma obra de arte devido ao seu esplendor estético que, mesmo trinta anos depois, ainda impressiona, sem deixar de ser envolvente, emocionante e facilmente viciante. É quando se percebe isso que se entende o verdadeiro valor de Cavaleiros do Zodíaco.