A série documental Wild Wild Country, produzida pela Netflix, conta a história de uma religião que causou uma enorme repercussão nos Estados Unidos nos anos 1980. Aliás, mesmo que você não saiba do que vamos falar aqui, você já deve ter lido em algum lugar uma frase motivacional acompanhada da assinatura “Osho”. Pois bem, é sobre essa pessoa que a série foi criada.
Tudo começou quando Bhagwan Shree Rajneesh, um guru indiano conhecido por suas técnicas de meditação, começou a conquistar seguidores em todo o mundo e ganhar uma imensa popularidade. É com essa breve introdução que a série se inicia. No entanto, quem ganha destaque no documentário é sua secretária, Ma Anand Sheela, mais conhecida apenas por Sheela, responsável por grande parte dos acontecimentos.
Bhagwan e sua missão de paz
Rejeitando o termo “culto” e “religião”, afirmando ainda que não era Deus e nem o novo Buda, Bhagwan decidiu que deveria unir todos os seus fiéis seguidores para conviverem juntos em paz e harmonia, exercendo suas técnicas de meditação em busca da felicidade e bem-estar. Com essa missão em mãos, Sheela viajou para os Estados Unidos para buscar uma solução para o objetivo de seu “mestre” e acabou adquirindo um rancho no deserto do estado de Oregon, com mais de 24 mil hectares.
O rancho passou a se chamar Rajneeshpuram, se tornando uma cidade completa em apenas poucos meses, construída apenas com o dinheiro arrecadado pelos fiéis e suas próprias mãos, sob comando de Sheela. Lá, eles não precisavam de nada do mundo exterior, pois tinham escola, banco, lojas, entre outros estabelecimentos.
Wild Wild Country é uma série para ser assistida sem preconceitos religiosos e sem julgamentos.
Os moradores de Rajneeshpuram trabalhavam e usavam suas especialidades para fortalecer a cidade. Existiam médicos, advogados, engenheiros, entre diversas outras profissões que haviam sido exercidas antes da mudança ou aprendidas para a sobrevivência no local. Suas vestimentas eram parecidas para que fossem facilmente identificados: trajes vermelhos, laranja, rosa ou levemente lilás.
Para o mundo exterior, Rajneeshpuram aparecia como um lugar de pessoas livres, felizes e que finalmente haviam encontrado o “nirvana”. Mas ao longo dos seis episódios de um pouco mais de uma hora cada, segredos sobre o culto e a cidade vão sendo revelados, causando incômodo na vizinhança.
Da paz para o conflito
Os problemas enfrentados pela cidade e seus habitantes abrangem temas que nunca deixaram de ser centro de debates, como imigração, racismo, preconceito religioso e sexualidade. Não era segredo para ninguém que Bhagwan, que anos depois de sua morte passou a ser conhecido como Osho, apreciava bons relógios e carros. O fato de o guru possuir mais de 10 veículos Rolls-Royce na garagem era motivo de piada entre os norte-americanos, que a cada dia mais duvidavam da “boa fé” do senhor.
Sheela sempre foi a porta-voz e acabava carregando nas costas todas as responsabilidades e acusações contra o guru.
Nos primeiros episódios, é muito fácil ser surpreendido e admirar a força de vontade dos seguidores de Osho, mas rapidamente a história acaba se invertendo, transformando os personagens pacíficos em vilões. Com o envolvimento do FBI, polêmicas envolvendo assassinatos, envenenamento, manipulação eleitoral e forjamento de documentos imigratórios, Rajneeshpuram começa a dar os primeiros passos para o seu fim.
Wild Wild Country é uma série para ser assistida sem preconceitos religiosos e sem julgamentos, mas com a mente aberta para entender as dificuldades do convívio com as diferenças, as transformações causadas pelo dinheiro, ego e idolatria.
A história de Baghwan, Sheela e Rajneeshpuram nunca foi esquecida pelos moradores de Oregon, que hoje são temas de coleções dos idosos que viram toda a história, que mais parece ficção, de perto.
Todos os episódios de Wild Wild Country estão disponíveis na Netflix.