Halt and Catch Fire é um caso bem peculiar na grade da AMC, e talvez também se comparada a outras produções em outras emissoras, sejam abertas ou a cabo. Elogiadíssima pela crítica, ela nunca emplacou bons índices de audiência, ainda que possua um público cativo e fiel – como este que vos escreve. Ainda assim, a AMC bancou a renovação de uma segunda temporada e depois de uma terceira. Internamente, havia a esperança que a situação mudaria e ventos melhores viriam, mas não aconteceu. Contudo, uma quarta e última temporada está garantida, e poderemos ver o desfecho deste drama ambientado no período mais interessante do universo da tecnologia.
A terceira temporada, encerrada recentemente, iniciou um tanto lenta. Christopher Cantwell e Christopher Rogers, criadores da série, estavam com dificuldade em encerrar as crises existentes no núcleo Joe MacMillan (Lee Pace), Gordon Clark (Scoot McNairy), Cameron Howe (Mackenzie Davis) e Donna Clark (Kerry Bishé). Isso já havia ocorrido no final da segunda temporada e tornou a ocorrer nos primeiros episódios da terceira.
Em partes, deve-se ao fato de que antigamente a tecnologia não avançava a passos largos como hoje, então a série não podia avançar muito no tempo para não correr o risco de atropelar os eventos. E também ela nunca foi uma série sobre tecnologia, mas, sim, um drama no contexto do desenvolvimento tecnológico da década de 1980 e início de 1990.
A boa sacada encontrada pela dupla de Christophers foi abordar temas previamente trabalhados sobre outras perspectivas. E deu muito certo.
A boa sacada encontrada pela dupla de Christophers foi abordar temas previamente trabalhados sobre outras perspectivas. E deu muito certo. Ao invés de tornar repetitivo, mostrou como certas temáticas são recicladas constantemente, principalmente pela resistência da sociedade às mudanças. Machismo no ambiente corporativo, a rivalidade entre mulheres dentro de uma realidade opressora a elas, o avanço dos casos de HIV/Aids e a homofobia estavam presentes.
Para não serem acusados de preguiça, a terceira temporada de Halt and Catch Fire ainda explorou os mitos por trás de grandes mentes da tecnologia, a ética no universo tecnológico e os grandes conglomerados. Ou seja, Joe, Gordon, Cameron e Donna trocaram de papeis neste ano, quase assumindo o lugar de “bandidos” da história. E esse jogo de cena foi o que deu liga à série, acrescentando novas e interessantes discussões ao seriado.
Serviu também para consolidar Halt and Catch Fire como um programa diferenciado neste “segmento”, não tanto pelas críticas (Silicon Valley, da HBO, também faz crítica bem-humorada disso), mas pelos recortes que são trazidos à luz, na época em que são feitos. E como um fator muito positivo, encontramos a delicada maneira de tratar cada tema sem ser panfletário ou excessivamente didático. E, como já dito nos textos das outras temporadas, aí está a razão que fez a AMC “nadar contra a corrente”. O texto e o subtexto de Halt and Catch Fire são primorosos, mesmo que não sejam a “invenção da roda”.
Certamente fará falta ao final da próxima temporada, que já aguardamos ansiosamente. Pelo retorno, não por seu fim.