Quando Heroes estreou em 2006, o cinema vivia uma intensa fase de adaptações de filmes baseados em quadrinhos. A série, que fez um estrondoso sucesso em sua primeira temporada, logo decaiu nos anos seguintes, concluindo sua história com uma audiência pífia e um roteiro esquizofrênico. Com o universo dos super-heróis ainda em alta, nada mais coerente do que ressuscitar uma série que, teoricamente, poderia reascender o interesse do público, com um plot interessante sobre pessoas comuns com poderes extraordinários. Pois contando com isso, Tim Kring (criador da série original) e os executivos do canal NBC resolveram buscar na nostalgia do público uma justificativa para a produção da minissérie Heroes: Reborn. Porém, ao tentar reparar os erros narrativos do passado, até o momento a produção entregou não uma reinvenção, mas uma continuação tão fraca ou pior do que as torturantes temporadas anteriores.
Como na série original, os 13 novos episódios serão apresentados em “volumes”, como se fossem quadrinhos, sendo o primeiro deles intitulado Awakening. Os dois primeiros capítulos, Brave New World e Odessa, mostram o início de uma nova guerra entre heróis e sociedade. Os “Evos” – assim chamadas as pessoas com poderes sobre-humanos – viviam em aparente paz, inseridos na sociedade e aceitos pela maioria, até que um grave atentado acontece, matando milhares de pessoas. Com a a culpa da tragédia atribuída aos Evos, novamente eles precisam fugir da perseguição humana.
A partir daí, o público conhece mais um punhado de personagens espalhados por todo o canto do mundo, que inevitavelmente vão se cruzar e ajudar uns aos outros (e não estou falando de Sense8). Os heróis são perseguidos por instituições governamentais e por uma dupla de vilões que jura vingança. No meio de tudo isso, Claire (Hayden Panettiere) é dada como morta (algo que não fica muito claro, visto que seu poder era a imortalidade, mas relevemos…), Hiro (Masi Oka) está desaparecido e Noah (Jack Coleman) perdeu a memória.
Sem evolução alguma se compararmos com a última temporada oficial, os diálogos são fracos, o enredo é simplista e ficamos nos perguntando a todo momento: por que decidiram voltar com essa série?
Entre os novos heróis, temos uma leva de pessoas desinteressantes. Tommy (Robbie Kay) é um adolescente frustrado que sonha em viver intensamente em outra cidade. Seu poder é teletransportar pessoas para lugares distantes. Luke (Zachary Levi) e Joanne (Judith Shekoni) viram seu filho morrer no atentado e querem vingança, tentando eliminar todos os Evos da face da Terra. Carlos (Ryan Guzman, ocupando o espaço de galã que outrora foi de Milo Ventimiglia) é uma espécie de Vingador que pretende fazer justiça com as próprias mãos para proteger os Evos. Por fim, temos Ren (Toru Uchiako), uma gamer que, de repente, encontra-se com uma garota chamada Miko (Kiki Sukezane), que tem o poder de se transportar para dentro de um jogo de video-game. Esta última, aliás, é a única personagem que traz algo novo, já que a história é contada por meio de computação gráfica, o que permite uma liberdade criativa maior na horas das lutas.
Nenhum desses personagens, entretanto, tem força suficiente para empolgar. Sem evolução alguma se compararmos com a última temporada oficial, os diálogos são fracos, o enredo é simplista e ficamos nos perguntando a todo momento: por que decidiram voltar com essa série?
A resposta, talvez, venha por meio de alguns fãs que esperam ansiosamente por um sopro de genialidade. A audiência anda sólida na TV americana – ainda que bem baixa. O grande problema é que Heroes sempre teve uma premissa interessante e uma execução falha. Perdidos e sem saber o que fazer, os roteiristas vão e voltam no tempo, inserem personagens sem um plano de crescimento para cada um deles dentro da narrativa e o roteiro parece sempre trabalhado de forma apressada, sem coerência.
Tim Kring tem uma nova chance de mostrar que pode dar aos fãs algo digno, ao menos para concluir sua história de uma forma menos vergonhosa. Porém, o que foi visto nestes primeiros episódios é uma sucessão de cenas que concluem que os verdadeiros heróis são mesmo o público, que firme e forte ainda acredita que um milagre pode salvar uma história que já deveria ter sido superada.