Robin Wright havia tomado conta de House of Cards mesmo antes das denúncias contra Kevin Spacey se tornarem públicas e o levarem à demissão. Claire Underwood já era o coração ao menos desde a quarta temporada, e o que se desenhava na tela era uma espécie de confronto final entre ela e Frank. House of Cards caminhava para esse duelo épico entre dois protagonistas que se aturavam pelo que a associação lhes beneficiava, mas haviam chegado a um ponto de impasse. A demissão de Spacey, mais que apressar a resolução disto, deu a Wright o protagonismo solo da série.
Ninguém em sã consciência duvidaria da capacidade da atriz de dar conta do recado e fechar esta que foi uma grande impulsionadora do sucesso da Netflix. Mas o sumiço de Frank na sexta temporada, infelizmente, não foi tão bem resolvido. Se House of Cards seguiu sendo um drama capaz de oferecer fortes emoções, terminou melancolicamente confusa.
No último ano, encerrado em uma temporada de oito episódios, Claire Underwood assumiu o cargo de presidente após a morte de Frank, enfrentando tanto uma gigantesca impopularidade com os norte-americanos quanto a quase completa ausência de aliados em sua administração. Sem apoio popular, sem respeito (e respaldo) dos congressistas e com desafetos na própria Casa Branca, ela opta por encarar seguir adiante tomando decisões que contrariem seu círculo, afinal não há risco à imagem de quem já a tem manchada frente à opinião pública.
Em uma temporada toda centrada em uma única protagonista, o público ao menos ganha a possibilidade de ampliar sua compreensão sobre a personagem principal.
O roteiro construído para o início da jornada final de House of Cards mostra uma Claire acuada, isolada, solitária. Apesar de lapsos, essa estratégia foi bastante interessante pois, ainda que sem Kevin Spacey, Frank Underwood ainda resistia ali, uma espécie de fantasma metafórico, capaz de assombrar a presidente. E é a isso que o nome de Frank se resume, um fantasma que atormenta pela inconclusão de sua morte e de seus desmandos enquanto vivo. Em uma temporada toda centrada em uma única protagonista, o público ao menos ganha a possibilidade de ampliar sua compreensão sobre a personagem principal, além de conferir uma atuação tão equilibrada que, não fossem certos arroubos criativos duvidosos, quase nos faz esquecer as falhas apresentadas.
Não há como escapar em apontar a péssima decisão de criar os Shepherd, dois irmãos ricos e de viés conservador que possuem, além de dinheiro, grande influência no meio político. Tentativa de evocar a trajetória dos irmãos Koch na vida real, eles simplesmente são inseridos na trama sem nunca terem sido sequer mencionados, e de alguma forma estranha parecem querer quitar uma dívida política de Frank. Ainda que Diane Lane e Greg Kinnear não falhem em suas atuações, essa história cheia de ambiguidades e lacunas é tão mal inserida quanto mal resolvida até o final dos oito episódios. Se a tentativa era de criar antagonistas à personagem de Wright, isso soou muito forçado e não deu resultados práticos à série.
Claro que não foi a primeira vez que House of Cards mudou o curso do programa, mas a solução encontrada encaminhou a série para um final incoerente com tudo que já havia sido apresentado. Ao fim, uma temporada que só fez evidenciar o talento de Wright, mas que, como encerramento, deixou a desejar ao núcleo de fãs que avidamente acompanhou sua trajetória por seis (longas) temporadas. Dava para ter sido melhor, e provavelmente a própria produção da série saiba disso.