Série pouco comentada do catálogo da Apple TV+, Mal de Família foi uma pérola escondida entre os lançamentos de 2022. De uma maneira que surpreendia pela inserção de toques de humor, ela contava a história de cinco irmãs incomodadas pelo marido abusivo de uma delas (chamado carinhosamente de The Prick ou, em tradução livre, “O Escroto”), que realmente é terrivelmente detestável – e criminoso. Por conta disso, todas elas tentam matá-lo, mas nunca têm sucesso.
Ainda assim, a primeira temporada abre nos dizendo que John Paul (o nome real do “Escroto”, e vivido de forma brilhantemente odiosa pelo ator Claes Bang) está morto. O que vamos desvendando ao longo dos episódios é o que, afinal, teria ocorrido com ele. A resposta, claro, só nos chega no final, e a temporada se encerra provocando uma certa curiosidade se seria possível dar sequência ao thriller.
A boa notícia é que Sharon Horgan (produtora da série e também a atriz que vive Eva, a irmã mais velha) conseguiu encontrar uma saída. A segunda temporada de Mal de Família (o título original é bem melhor: Bad Sisters) cumpre, mais uma vez, o desafio de nos envolver em uma trama que mistura suspense ao estilo “quem matou” com uma comicidade bastante peculiar. E, para o deleite de quem curtiu a série, as irmãs Garvey retornam ainda mais ácidas do que antes.
‘Mal de Família’: um novo mistério à vista
Sem trazer spoilers, é possível revelar que a temporada 2 mais uma vez gira em torno de um mistério ao estilo whodunnit. Novamente, estamos diante de uma mesma fórmula, mas que consegue ser concretizada com alguma originalidade, e com novos papéis importantes para a história.
A segunda temporada aposta menos na qualidade do mistério e mais na questão do humor subjacente às interações atrapalhadas das cinco irmãs.
Na nova história, Claire (Anne-Marie Duff), a viúva de John Paul, está se casando de novo com o encantador Ian (Owen McDonnell, de Killing Eve). A cerimônia é simples e encantadora, com todas as Garvey em trajes amarelos celebrando a chegada da felicidade à vida da irmã, que comeu o pão que o diabo amassou com o primeiro marido. Obviamente, já no fim do primeiro episódio, a maionese começa a desandar.
Entram em cena três bons personagens: o primeiro é o detetive Fergal Loftus (vivido pelo ator irlandês Barry Ward), que já aparecia na primeira temporada como um policial preguiçoso e meio corrupto que se interessava mais por golfe do que pelos casos. Ele será contraposto a uma nova profissional cheia de gás (Thaddea Graham) que irá confrontá-lo com o seu conformismo, o que traz uma nuance paralela à trama das Garvey.
Por fim, boa parte da graça da temporada gira em torno de Angelica (papel da veterana Fiona Shaw, que vivia Petúnia Dursley, a tia de Harry em Harry Potter). A irmã de Roger, o vizinho solteirão de Claire, entra na série com um grande alívio cômico ao dar vida a uma velha petulante que provoca verdadeiros desejos de assassinato. No entanto, o desenrolar de sua história está entre os eixos mais engraçados de Mal de Família. Ela é tão xarope que as Garvey a apelidam de The Wagon, uma gíria irlandês que equivale a bitch. De certa forma, Angelica é uma versão feminina do Escroto.
Mas nada é o que parece. Ainda assim, a impressão que se tem, no encerrar dessa segunda temporada, é que Bad Sisters aposta menos na qualidade do mistério e mais na questão do humor subjacente às interações atrapalhadas das irmãs. Ou seja: se o segredo que se revela não é tão original assim, nem importa tanto. A diversão aqui é rir (e se emocionar) com as tragédias de cinco irlandesas que parecem ser da nossa própria família.
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