A forma como Mozart in the Jungle mesclou humor e drama em sua primeira temporada chamou a atenção do público e da crítica, que ficou muito mais atenta quando a série retornou para uma segunda temporada. Se o elenco se mostrou afinado no primeiro ano do show, no segundo ele foi decisivo em levar a série até o final de seu décimo episódio, carregando nas costas um texto carente de bons argumentos, demonstrando grande dificuldade em equilibrar as camadas de música (o grande pano de fundo de Mozart in the Jungle) com o drama de seus protagonistas.
Gael Garcia Bernal seguiu magnífico em seu Rodrigo, ainda que vez ou outra soe excessivamente caricato. Ainda assim, era ele o responsável pela válvula de escape da série, quase como no futebol: em caso de dificuldade, toque a bola para o craque do time. Desta forma, a aproximação da orquestra das raízes latinas de seu maestro evidenciou o desejo de criar mais camadas na formação deste personagem suis generis. Entretanto, se para o personagem de Gael esta guinada foi importante, para os demais personagens (e, consequentemente, para a trama) causou um certo desequilíbrio.
O elenco é definitivamente superior à complexidade do texto que tinham em mãos, com um esforço hercúleo em tentar avançar o enredo que, por vezes, parece tornar as subtramas estagnadas.
O elenco é definitivamente superior à complexidade do texto que tinham em mãos, com um esforço hercúleo em tentar avançar o enredo que, por vezes, parece tornar as subtramas estagnadas. Mesmo Hailey (Lola Kirke), a oboísta e assistente do maestro, e em teoria a coprotagonista de Mozart in the Jungle, acaba funcionando como um simples adereço, ainda que sua crise profissional seja o mote do personagem.
As dificuldades da segunda temporada ficam mais evidentes na primeira metade dos episódios, que ainda que ofereçam a expansão de locais (como Los Angeles e Cidade do México) como uma importante adição estética, parecem perdidos na história da greve dos músicos da orquestra, ou nas crises de Thomas (Malcolm McDowell) em relação a seu futuro. Ao que pese o talento dos atores, esta temporada acaba por não conseguir emergir nem como uma série cômica e tampouco como um verdadeiro drama.
Esse ponto acaba sendo curioso quando colocamos o seriado em comparação com Transparent, por exemplo. Enquanto em Transparent o tema se sobressai, funcionando como uma escada para as atuações ímpares de seu elenco, em Mozart in the Jungle o olhar para trás das cortinas, para os egos e dificuldades do universo da música clássica, ainda parece bem sutil neste segundo ano.
Essa confusão entre o que é primário e secundário para o enredo do programa pode até parecer algo relativamente pequeno, mas mesmo os serviços de streaming já entenderam que os shows precisam de mais que um bom elenco ou boas críticas. Ou seja, para seguir justificando o investimento na série, é hora dos roteiristas darem uma cara mais definida a Mozart in the Jungle – e um ano melhor.