Problemas matrimoniais, luto, solidão, distorção de imagem, vício. Esses são alguns dos problemas que envolvem nove desconhecidos, com aparentemente nada em comum, no mesmo local. São também problemas recorrentes em uma sociedade cada vez mais centrada na imagem, nas redes sociais e em relações efêmeras.
Com produção original do Hulu, disponível no Brasil através do Amazon Prime Video, Nove Desconhecidos, como o próprio nome já diz, conta a história de nove pessoas selecionadas para uma espécie de spa com técnicas de “cura” místicas (que ninguém sabe muito bem o que significa) chamado Tranquillum House.
A trama se concentra sobretudo nos dramas pessoais de cada personagem. Como centro, há Masha (interpretada por Nicole Kidman), uma mulher russa que possui um passado misterioso e é a líder de Tranquillum House. Os hóspedes Tony e Frances, um jogador de futebol americano no ostracismo e uma autora com síndrome de impostora, desenvolvem a princípio uma antipatia mútua, mas que se revela uma química absurda, graças a Melissa McCarthy e Bobby Cannavale.
A família Marconi, formada pelo casal Napoleon (Michael Shannon) e Heather (Asher Keddie) e pela filha Zoe (Grace Van Patten), parece ser a trama mais explorada e o maior interesse de Masha – isso se deve ao fato de a família estar lidar com o luto pelo suicídio do outro filho, Zach. Porém, outros personagens e conflitos da série parecem terem sido esquecidos no churrasco, como o casal Jessica (Samara Weaving) e Ben (Melvin Gregg).
Em Nove Desconhecidos, todos têm feridas abertas, alguns sabem e querem se curar, outros vão descobrir muito mais do que desejam sobre si mesmos ao longo do processo.
Em Nove Desconhecidos, todos têm feridas abertas, alguns sabem e querem se curar, outros vão descobrir muito mais do que desejam sobre si mesmos ao longo do processo. Mas, o grande ponto de virada está no fato de Masha, enquanto líder da Tranquillum House, oferecer microdoses de alucinógenos para os hóspedes – sem eles saberem.
A revolta dos visitantes com a revelação gera a raiva e o desentendimento esperado. Porém, já que estão lá, os personagens decidem seguir com o tal tratamento alternativo. Afinal, todos estavam lá para uma experiência não convencional. Porém, dúvidas permanecem constantes em suas – e nossas – mentes: Masha é ou não é uma charlatã? Seria ela uma louca ou gênia?
As viagens psicodélicas abrem portas na trama para a imaginação, situações absurdas e, claro, fornecem alguns momentos hilários. A série é sobretudo um drama de perdas, ressentimento e falta de aceitação, mas o humor muito certeiro habilmente deixa o tom da série mais leve.
É importante também ressaltar que o enredo é uma adaptação do best-seller homônimo da australiana Liane Moriarty. Ela também é a autora de Big Little Lies, outra produção estrelada por Kidman. E por falar na atriz, Nicole Kidman parece não convencer no papel da líder espiritual russa. Talvez por já ser uma atriz norte-americana consolidada, mas acredito que seu grande deslize foi um sotaque russo flutuante e forçado.
Em Nove Desconhecidos o melhor fica para o final. A reviravolta do último capítulo serve para mostrar que talvez as drogas sejam apenas o caminho, e não o fim. A série se revela na verdade uma grande subversão a tragédia pois, depois de muita badtrip, fica o questionamento: e se eu tentasse, daria certo?