Quando se ouve o nome de Melissa McCarthy é instantânea a imagem do riso. A atriz é o principal nome feminino do humor contemporâneo nos Estados Unidos, razão que dá peso a O Idiota Favorito de Deus.
A série da Netflix com Melissa estreou sua primeira temporada com oito episódios recentemente. Havia muita expectativa, afinal a atriz tinha a seu lado Ben Falcone, o companheiro de vida (e humor) de quase 20 anos e a liberdade criativa do streaming.
Como toda grande subida, o problema é sempre a queda. O Idiota Favorito de Deus curiosamente chegou com desconfiança, já que a Netflix não disponibilizou os episódios iniciais aos críticos norte-americanos como costuma fazer[1].
A série é criação de Falcone, que divide o protagonismo (e a produção executiva) com Melissa, que na série interpreta Amily, funcionária de um escritório repleta de vícios e maus comportamentos. Dividem com ela o espaço Clark (Falcone) e outros colegas.
Sem razão clara, o personagem de Ben Falcone aparece brilhando. Em um par de cenas, a série nos explica que o homem foi escolhido por Deus ao acaso para ser o mensageiro de uma palavra de paz na Terra. Os céus enfrentam uma batalha contra as forças demoníacas e Clark parece ser a única esperança de salvação para os humanos.
No meio de muitas atribulações e de uma sociedade descrente, arrogante, preconceituosa, maléfica (e com direito até mesmo aos péssimos efeitos dos mercadores da fé), Clark assume o papel de ser alguém que trará calma a esse mundo.
O Idiota Favorito de Deus não tem nenhum objetivo claro, ainda que por vezes fique a sensação de que satiriza o tratamento que os humanos dão aos aspectos da fé.
Porém, nem mesmo sua vida é um mar de rosas, seja pelo relacionamento estranho que desenvolve com o pai (com quem só conversa dentro de uma sauna), seja pelo amor que nutre por Amily ou pela sensação de que é incapaz de fazer o que for.
O Idiota Favorito de Deus não tem nenhum objetivo claro, ainda que por vezes fique a sensação de que satiriza o tratamento que os humanos dão aos aspectos da fé como uma simples questão maniqueísta.
Mesmo que repleta de símbolos (o pastor que trai sua comunidade, o demônio representado por uma mulher sedutora, os cavaleiros do apocalipse, o negro que se coloca pronto ao sacrifício pelo branco, entre outros), fica nítido que a equipe de roteiristas comandada por Falcone não tinha muita noção do que desejava, tornando o projeto apenas e tão somente uma aventura constrangedora de 30 minutos por cada episódio.
Nem mesmo os demais personagens recebem um pingo de complexidade, o mínimo necessário para que o público crie empatia com eles. Parecem adereços colocados com o simples objetivo de mostrar que, em cena, a série não é só para desfilar o humor de Melissa e Ben. Que, aliás, é inexistente aqui.
Não se trata de humor refinado com toques sutis no subtexto, são apenas personagens que não funcionam bem e cuja complexidade nos faz pensar o que teria motivado alguém como McCarthy a encarar a série, que ainda não se sabe se será renovada pela Netflix – ainda que o episódio final tenha deixado uma brecha para uma eventual sequência.
O apanhado geral do fim desta suposta primeira temporada é triste, um ponto fora da curva de uma carreira tão brilhante como a da comediante. Há humor muito melhor (e da própria atriz) na Netflix.
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[1] Daniel D’Addario, in Variety
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