A Netflix não é lá muio reconhecida por saber identificar quando uma de suas produções (filme, série, minissérie ou reality show) é ruim ao ponto de não ser exibido. Todavia, nem a gigante do streaming suportou a primeira (e única) temporada de Resident Evil: A Série.
Devidamente cancelada na última semana de agosto, a produção conseguiu soterrar as espectativas do público fã da franquia de jogos eletrônicos da Capcom.
Com 26 anos de existência, a franquia já foi adaptada para o cinema, com filmes ora interessantes, ora dispensáveis, mas sua chegada na Netflix era aguardada, muito aguardada. E a decepção com a produção é do tamanho da expectativa, quiçá maior.
Não era a primeira incursão da plataforma de streaming no universo dos zumbis, mas a tentativa de criar um culto (e sucesso comercial, é claro) tal como ocorre com The Walking Dead saiu pela culatra.
A série da Netflix decidiu adotar uma abordagem diferente, por exemplo, dos filmes estrelados por Milla Jovovich, dando enfoque à família Wesker, em especial ao pai, Albert (Lance Reddick, de Fringe) e as gêmeas Jade e Billie (Tamara Smart e Siena Agudong).
https://www.youtube.com/watch?v=mUisls0Z-C0
Repleto de flashbacks atrapalhados, o seriado transcorre em duas linhas do tempo distintas.
Quem é habituado à saga dos jogos/filmes sabe que Albert é um dos principais vilões da franquia, mas em Resident Evil: A Série ele aparece reimaginado como uma figura paterna fria, distante, mas que nutre um amor (ainda que estranho) por suas filhas. Não seria um problema se a construção dessa “nova realidade” não fosse confusa, frágil, quase mal escrita.
Repleto de flashbacks atrapalhados, o seriado transcorre em duas linhas do tempo distintas. Na primeira, ela nos leva a New Raccoon City no ano de 2036, em que um vírus afetou humanos os transformando em zumbis, acabando por devastar o mundo.
Aqui, Jade é adulta e pesquisa o genoma do vírus para tentar encontrar uma cura, ou ao menos como sobreviver aos zumbis. Sua pesquisa é conduzida enquanto tenta fugir da Umbrella Corporation, comandada por sua irmã gêmea.
Já na linha do tempo de 2022, Albert e as meninas haviam acabado de se mudar para New Raccoon City. Nesse recorte, Resident Evil: A Série nos conta os eventos que levaram ao apocalipse mostrado em 2036.
Talvez crendo que haveria tempo para explicar mais e melhor, os produtores do show gastaram quase toda a primeira temporada na tentativa de criar uma explicação para como aconteceu o apocalipse zumbi, se esquecendo de mostrar como sobreviveram até 2036.
Apesar de referências aos jogos e alguma ação zumbi, Resident Evil: A Série exagera nos malabarismos, com algumas histórias paralelas que ficam sem explicação, que não acrescentam à trama central e que gastam tempo na rela.
O Albert de Reddick até possui algum nível de complexidade, mas o roteiro não coopera e perde um ator comprometido com a atuação. Outro erro diz respeito à megalomania da produção da Netflix. Enquanto nos jogos o surto se dá em diferentes áreas do mundo, no seriado é um efeito de proporções globais, mas que parece só exigir dos estadunidenses algum movimento para se ver livre dessa ameaça.
É como se o restante do mundo só existisse para dar dimensão ao perigo, mas sem interesse em incluí-los. Não se trata de querer que o show fizesse algo de muito diferente, mas que não entregasse um resultado pior do que o pior dos filmes.
Sugiro aos fãs os jogos e os filmes, estes últimos presentes no catálogo da Netflix.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.