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‘The Handmaid’s Tale’ chega ao fim — e deixa um vazio inquietante

Série baseada no universo distópico de Margaret Atwood, 'The Handmaid's Tale' encerra trajetória televisiva com temporada final sombria e contundente, marcada por ecos assustadoramente atuais.

porPaulo Camargo
24 de junho de 2025
em Televisão
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Adaptação da obra de Margaret Atwood chegou ao fim após seis temporadas. Imagem: MGM Television / Divulgação.

Adaptação da obra de Margaret Atwood chegou ao fim após seis temporadas. Imagem: MGM Television / Divulgação.

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Quando Margaret Atwood lançou O Conto da Aia, em 1985, o cenário político dos Estados Unidos já dava sinais de um reordenamento profundo. Sob o governo de Ronald Reagan, a consolidação do projeto neoliberal começava a remodelar a estrutura social, econômica e ideológica do país. Nesse contexto, a distopia de Gilead — uma teocracia totalitária nascida do colapso institucional e da manipulação religiosa — não parecia apenas um exercício de imaginação especulativa, mas uma advertência moldada pelas ansiedades do presente.

Mais de três décadas depois, em 2019, Atwood voltaria àquele universo com Os Testamentos, sinalizando que o temor em relação ao autoritarismo não apenas persistia, como se agravava. A decisão de retomar a história, com tamanha distância temporal, dificilmente pode ser considerada casual. O mesmo vale para o fim da adaptação televisiva de O Conto da Aia, The Handmaid’s Tale, criada por Bruce Miller, que chega ao fim após seis temporadas, justamente em um momento em que os Estados Unidos enfrentam desafios democráticos cada vez mais explícitos — do avanço de políticas reacionárias à fragilidade institucional diante de discursos extremistas.

O que começou como uma adaptação reverente ao romance original transformou-se em algo maior: um universo narrativo robusto, profundamente perturbador, marcado por personagens complexos e por uma atmosfera de tensão constante. A sexta e última temporada, que pode ser vista no Brasil na plataforma de streaming Paramount+, reencontra June (Elisabeth Moss) e Serena Joy (Yvonne Strahovski) em fuga, dividindo um vagão de trem rumo ao Alasca, último bastião dos Estados Unidos livres.

O breve encontro entre as duas adversárias, selado por uma admissão relutante de respeito, antecipa seus destinos divergentes. Enquanto isso, Gilead continua a expandir suas contradições internas: o comandante Lawrence (Bradley Whitford) dá forma ao projeto de Nova Belém, uma tentativa de promover uma face “moderada” do regime, enquanto Nick (Max Minghella) permanece preso entre a fidelidade ao sistema e os sentimentos por June — dilema acentuado pela figura de Luke (O-T Fagbenle), agora ativo na resistência.

No entanto, o centro emocional da série permanece o mesmo: Hannah, a filha de June, ainda retida em Gilead. Essa ausência insuperável simboliza a ferida aberta que impulsiona a narrativa. The Handmaid’s Tale é, desde o início, uma história sobre o futuro — e sobre a luta desesperada para garanti-lo. Quando June, exausta, admite: “Eu tentei muito salvá-la… tentei de verdade”, não é apenas um lamento pessoal. É um grito coletivo. Cada passo adiante é imediatamente confrontado por novas barreiras, e a sensação de impotência se acumula como um eco da própria experiência de viver sob sistemas opressivos.

A performance de Elisabeth Moss, que além de protagonizar também dirige vários episódios desde a quarta temporada (incluindo o final), é o alicerce da série. Sua atuação dá forma a uma personagem marcada por ambiguidade moral e força visceral. A câmera parece estar sempre próxima demais, como se não houvesse escapatória — nem para June, nem para o espectador. Essa proximidade incômoda é parte do método da série: não há alívio, não há concessões. Até os espaços de refúgio se mostram instáveis, atravessados por ameaças latentes. A brutalidade não é um recurso episódico, mas uma condição do mundo representado.

A performance de Elisabeth Moss, que além de protagonizar também dirige vários episódios desde a quarta temporada (incluindo o final), é o alicerce da série.

Essa constância do trauma explica o cansaço dos personagens — e também do elenco. Samira Wiley, intérprete de Moira, hesita quando perguntada sobre uma eventual participação em futuros spin-offs: “Já passei por esse trauma”. O público, por sua vez, partilha desse sentimento. A experiência de assistir à série é muitas vezes árdua, marcada por dor, frustração e tensão ininterrupta. Mas também é, por isso mesmo, essencial.

Se o romance de Atwood já integra o currículo escolar em muitos países, a adaptação televisiva amplia sua força pedagógica ao detalhar as engrenagens do autoritarismo: como ele se instala, como se perpetua, como se apresenta como solução diante do caos. Em um flashback, o pai de Serena diz: “As pessoas precisam acreditar em alguma coisa”. É justamente nessa necessidade humana — por sentido, por segurança, por fé — que regimes totalitários fincam suas raízes.

A despedida de The Handmaid’s Tale não oferece conforto. Bruce Miller e Elisabeth Moss optam por um desfecho coerente com o tom da obra: sombrio, incômodo, quase exausto. Não há catarse, tampouco promessas de redenção. O que permanece é um silêncio inquietante — tanto na tela quanto fora dela. Um silêncio que exige escuta atenta, e que talvez seja o maior legado da série: a capacidade de nos fazer encarar o presente com menos ilusões e mais lucidez.

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Tags: Bruce MillerElisabeth MossMargaret AtwoodO Conto da AiaThe Handmaid's Tale

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