Embora até agora tenha escrito apenas sobre animações, vamos falar esta semana sobre uma série live-action para variar. Mais especificamente, sobre uma das séries mais fascinantes que de fato acompanhei. Mas para explicar o porquê de ela ser tão fascinante, vamos para uma pequena aula de história.
O ano é 1965. A televisão americana até poucos anos antes era dominada por séries de faroeste. Quando a franquia 007 tornou-se uma febre mundial, porém, a televisão não poderia escapar dela, e logo a programação de todos os canais passou por um boom de seriados de agentes secretos: Os Vingadores, Missão Impossível, A Lei de Burke, O Agente da U.N.C.L.E., Os Destemidos… Todas elas com diferentes níveis de qualidade narrativa, técnica e originalidade. Foi então que o produtor Michael Garrison teve a ideia de dar um novo sopro de vida ao faroeste. Como? Misturando-o descaradamente com o gênero de agentes secretos! E assim nasceu The Wild Wild West, também conhecido no Brasil como James West.
O conceito é tão excêntrico e diferente de tudo feito antes que é difícil não achá-lo, no mínimo, divertido: uma versão steampunk de James Bond, inspirada nas obras de Júlio Verne e H. G. Wells e ambientada durante a presidência de Ulysses Grant (1869-77), girando em torno de dois espiões do Serviço Secreto americano, o forte galã James “Jim” West (sim, é assim óbvio), interpretado por Robert Conrad; e seu parceiro, o mestre dos disfarces Artemis “Artie” Gordon, interpretado por Ross Martin.
Viajando pelos EUA a bordo de seu trem particular, o Wanderer, os dois resolvem um mistério novo a cada episódio, que começa aparentemente normal para uma trama de faroeste, envolvendo índios, cowboys e tudo o mais, até que, em uma reviravolta, algum vilão megalomaníaco é revelado, geralmente após os heróis serem capturados em alguma armadilha elaborada, e o qual eles conseguem derrotar graças a uma variedade de dispositivos igualmente elaborados, algum disfarce de Artie e algumas das melhores acrobacias de sua época (quase sempre feitas pelos próprios atores!).
Esse é um daqueles casos de uma produção que entrega exatamente o que promete, por mais absurdo que soe.
É um mundo bizarro, com cenários extravagantes, ricamente decorados e coloridos (principalmente a partir da segunda temporada, quando a série passou a ser produzida em cores), onde viagens no tempo, mansões mal-assombradas e dispositivos capazes de aprisionar pessoas dentro de quadros soam quase corriqueiros, e habitado por vilões que podem variar desde sociedades secretas revolucionárias e políticos golpistas até cientistas malucos, pessoas com poderes sobrenaturais e outros personagens que mais parecem saídos de quadrinhos de super-heróis. Ah, e não podemos esquecer o inesgotável elenco de belas e destemidas “Westgirls” com as quais Jim se envolve romanticamente a cada episódio.
The Wild Wild West foi sem dúvida uma das séries mais imaginativas de seu tempo, misturando faroeste com ficção científica, ação com comédia. A identidade visual e sonora da série também é marcante, com a abertura animada em estilo de história em quadrinhos, as pausas comerciais feitas de compilações de frames do episódio, e os diferentes e sempre grandiosos temas da trilha sonora.
Mas sem dúvida a série não seria a mesma se não fosse pelo seu maravilhosamente talentoso elenco, principalmente a inabalável química entre Conrad e Martin. Conrad interpreta Jim como um dos espiões mais legais de sua época, e Martin… Bem, Martin deve ter se sentido no paraíso como o “Homem de Mil Rostos” que é Artemis Gordon, destacando-se a cada episódio com um figurino novo, uma maquiagem nova, um sotaque novo… Praticamente um personagem diferente por semana, que ator não gostaria disso?
Mas não é apenas Conrad e Martin: Os atores convidados são muitas vezes da elite de sua época, como Sammy Davis Jr. e Agnes Moorehead (que inclusive ganhou um Emmy pelo seu papel em um dos episódios), sem falar nos mais recorrentes, como Victor Buono, que interpreta um dos vilões, o mágico Conde Manzeppi; e, principalmente, Michael Dunn, um dos maiores atores anões de todos os tempos (fãs de Star Trek talvez se lembrem dele do episódio “Plato’s Stepchildren”), que destila todo o seu talento como o arqui-inimigo de Jim e Artie, o Dr. Miguelito Loveless (sim, esse é o nome dele, mas uma vez que Dunn começa a falar não há quem se importe com isso).
Olhando a série agora em retrospectiva, esse é um daqueles casos de uma produção que entrega exatamente o que promete, por mais absurdo que soe, e sempre bem atuada, bem produzida e empolgante, dando o devido respeito a si própria. E para aqueles que estavam até agora esperando por isso, acho que este é o momento de dizer: ao contrário de sua adaptação para filme de 1999, estrelando Will Smith e Kevin Kline (que não possuem nada da química de Conrad e Martin), que ficou infamemente conhecida como o maior arrependimento da carreira de Smith. Pronto, satisfeitos?