Em seu terceiro ano consecutivo, o quadro “Show dos Famosos”, presente no Domingão do Faustão, tem-se revelado um divertidíssimo guilty pleasure para encerrar as noites de domingo. Se nós, brasileiros, adoramos uma boa competição televisiva, “Show de Famosos” tem consolidado um lugar cativo justamente por seu tom kitsch, tendendo ao cômico – o que, naturalmente, estende sua experiência para além da própria televisão.
Em suma, o quadro é uma espécie inusitada de show de calouros, em que artistas nacionalmente conhecidos (uns mais, outros menos) competem quinzenalmente numa apresentação em que “emulam” (física e vocalmente) a performance de outro artista famoso. É, portanto, uma homenagem às avessas (pois sem muita lógica) feita por fãs célebres, e que são avaliados por um júri técnico – formado por Miguel Falabella e Claudia Raia, que aparecem no programa como autoridades em musicais, e o diretor da Globo Boninho – além de uma votação feita online e outra pela plateia do programa.
Conforme comentei em 2018, a graça do “Show dos Famosos” está no fato de pretender dar luz a uma “Broadway brasileira”- ou seja, a uma produção grandiosa, exagerada, visando a perfeição e não a mera experiência de entretenimento. Os quadros envolvem múltiplos preparos – como o treino vocal, a caracterização, a coreografia, o estudo do gestual, a cenografia, o corpo de dança, a projeção em 3D – e evidenciam um investimento alto da Globo na atração. Os resultados sugerem um alto sacrifício por parte dos participantes, que costumam expor todos os percalços enfrentados para concretizar aquela apresentação.
E por que gente já consagrada, como Sandra de Sá e Diogo Nogueira, se submete a tudo isso? Ninguém sabe exatamente. Talvez por isso mesmo, pelo seu caráter algo surreal, que “Show dos Famosos” tornou-se um hit nas redes, local em que quase sempre as apresentações são decifradas pelo cômico. Há uma espécie de competição entre os internautas sobre quem faz a piada mais engraçada em torno das performances exibidas na Globo (a concorrência é dura, aliás).
Se há alguma novidade na edição de 2019, está no peso assumido no programa pelo corpo de jurados. O trio se tornou uma atração à parte no quadro e são recebidos semanalmente sob aplausos, numa cerimônia que remete ao antigo Show de Calouros de Sílvio Santos.
Em 2019, o time de competidores, como sempre, é díspar. Os oito concorrentes são Danielle Winits (atriz da Globo, de carreira flutuante), os cantores Di Ferrero (da banda NX Zero), Solange Almeida (ex-vocalista da banda Aviões do Forró), Ludmilla e Diogo Nogueira, o comediante Wellington Muniz “Ceará” (ex-Pânico na TV), e os relativamente desconhecidos Hugo Bonemer e Mel Fronckowiak.
As apresentações são inconstantes. Algumas especialmente risíveis – Ceará, por exemplo, tem sido constantemente criticado por levar seus trejeitos de comediante para suas performances afrontosamente exageradas, fazendo jus aos anos em que passou no Pânico. Seu Mick Jagger, logo nos primeiros programas, beirou o ridículo. Já Solange Almeida parece estar sempre interpretando a sim mesma vestindo roupas alheias.
Danielle Winits, por outro lado, inspira certa tristeza pois parece levar a empreitada muito a sério e quase sempre lhe falta voz ou desenvoltura no palco (ou ambos), ainda que ela atue profissionalmente como atriz de musicais. Ao interpretar Madonna cantando “Vogue”, demonstrou um fio vocal que a levou às notas mais baixas. As boas surpresas têm sido Diogo Nogueira e Ludmilla, que despontam como possíveis ganhadores do quadro. Versátil, Diogo Nogueira chamou a atenção ao despir-se do sambista para incorporar uma gama de artistas que vão de Cauby Peixoto a Angela Ro Ro.
Entretanto, se há alguma novidade na edição de 2019, está no peso assumido no programa pelo corpo de jurados. O trio se tornou uma atração à parte no quadro. Semanalmente, são recebidos sob aplausos, num tom cerimonial que remete à abertura do antigo Show de Calouros de Sílvio Santos. A lógica, inclusive, é bem semelhante: os três jurados se tornaram personagens marcados, da mesma forma que ocorria no famoso programa de Sílvio.
Claudia Raia, anunciada a cada semana como um evento em si mesma, é exuberante como Elke Maravilha. Já Boninho – o mais crítico dos jurados, com comentários duros e secos – tornou-se quase como um Pedro de Lara menos caricato, pois recebe vaias da plateia a cada opinião e é entendido com o avaliador azedo que nunca dá nota máxima. Ainda que pareça incomodado com essa reação, Boninho demonstra ter assumido a veia performer e resolveu jogar o jogo; em um dos episódios, por exemplo, chegou ao programa vestido como Bento Carneiro, o vampiro criado por Chico Anysio.
Divertido e exagerado, “Show dos Famosos” sedimenta a vocação do Domingão do Faustão na constituição de quadros que conseguem dar boa repercussão e que obtêm sucesso na tarefa de trazer um pouco de graça às noites de domingo – nem que seja para assistir a uma série de artistas se prestarem a um papel um tanto quanto absurdo. Que tenha vida longa na televisão.