Tempo de Amar, última novela das seis da Rede Globo, terminou nesta última segunda-feira, 19 de março. Escrita pelo premiado autor Alcides Nogueira, em parceria com Bia Corrêa do Lago, a trama mostrou o melhor do folhetim clássico, fazendo uso de todos os recursos típicos do gênero.
Claro que teve seus defeitos, como uma demora muito grande no desenrolar dos fatos e um desencontro de personagens pouco provável. Grande parte do público criticou o excesso de sofrimento dos personagens. Foi um enredo que pesou no melodrama, chegando quase a ser soturno. Teve muito drama, desencontros amorosos, lágrimas, brigas e vilania das brabas. Há quem reclamou que foi uma trama sem humor, sem leveza, sem nenhum alívio cômico. Realmente foi. Porém, a novela se propôs a isso. Colocar um núcleo para fazer graça teria feito a trama perder o sentido.
Explicando superficialmente o que é um melodrama, segundo o dicionário, é uma peça teatral de caráter popular, na qual se acumulam, em tom patético, sentimentos e ações de exagerada dramaticidade. Sendo assim, acho que podemos afirmar que Tempo de Amar é um melodrama de raiz e cumpriu com primor esse papel.
Podemos afirmar que ‘Tempo de Amar’ é um melodrama de raiz e cumpriu com primor esse papel.
A produção foi uma prova viva da qualidade e do cuidado que tornam as novelas da emissora campeãs de audiência. Contou uma história de época, passada no final da década de 1920, ambientada ora no interior de Portugal, ora no Rio de Janeiro, com cenas rodadas em Bento Gonçalves e Garibaldi, na serra gaúcha.
Um aspecto que chamou a atenção foi a ausência de qualquer sotaque, tanto do português de Portugal, apesar do grande número de personagens lusitanos na história, quanto do famoso sotaque carioca, responsável, por exemplo, por muitas das críticas que algumas novelas (Deus Salve o Rei que o diga) sofrem. Em compensação, Alcides Nogueira apresentou um texto perfeito. Deu gosto ouvir todos os personagens falando um português culto, dispensando o informal até nas cenas corriqueiras e informais.
Um grande prazer na novela foi acompanhar o desempenho de alguns atores, destacando Letícia Sabatella, impressionante como a vilã Delfina, e, principalmente Marisa Orth, incrível como Celeste Hermínia. Desde que apareceu ao grande público em Rainha da Sucata (1990), Marisa Orth mostrou-se hábil na capacidade de fazer rir. Sua veia cômica consolidou-se de vez com a antológica Magda, de Sai de Baixo, sua personagem mais marcante. De lá para cá, Marisa encarou vários personagens de humor na televisão. Em Tempo de Amar, ela surgiu como a imponente cantora de fado: uma mulher forte, adorável e cheia de contradições. Num elenco repleto de estrelas, ela impressionou ao mostrar uma faceta sua que até agora não tinha sido explorada na televisão.
Outro ponto interessante, que já havia comentado nesta coluna no texto sobre a estreia da novela, é que o “casal” protagonista foi vivido por dois atores desconhecidos do grande público: a gaúcha Vitória Strada e o modelo e ex-jogador de futebol Bruno Cabrerizo. Uma aposta certeira, afinal os dois atores se saíram muito bem. Outra boa sacada do autor foi, sem forçar a barra, estabelecer diálogos entre os anos 1920 e os dias de hoje, e mostrar temas de convergência entre as duas épocas, como a questão do negro, do relacionamento inter-racial, da mulher, da corrupção e da febre amarela.
Foi uma história marcante, que deu gosto de acompanhar. Agora é torcer para que a atual novela das seis, Orgulho e Paixão, que estreou ontem (20 de março) na faixa, seja uma boa produção. Semana que vem tem análise da primeira semana. Não perca!